à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
(Álvaro de Campos)
31/10/10
OMNIA VINCIT AMOR - 152
A vida responsável
Conduzir mas sem ter um acidente, comprar massas e desodorizante se cortar as unhas às minhas filhas. Madrugar outra vez e ter cuidado Em não dizer inconveniências, Esmerar-me na prosa de umas folhas E estou-me nas tintas para elas, Retocar de vermelho cada face. Lembrar-me da consulta ao pediatra, Responder ao correio, estender roupa, Declarar rendimentos, ler uns livros, Fazer umas chamadas telefónicas. Bem gostaria de me dar ao luxo De ter o tempo todo que quisesse Para fazer só coisas esquisitas, Coisas desnecessárias, prescindíveis E, sobretudo, inúteis e patetas. Por exemplo, amar-te com loucura. Amalia Bautista
"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...TUDO BEM!O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos..."
Falecido neste dia em 1981, pediu, nesta canção, para ser enterrado na praia de Sète, onde tinha nascido em 22 de outubro de 1921.Fizeram-lhe a vontade.Como escrevera Mário de Sá-Carneiro, « a um morto nada se recusa». Foi um dos grandes 'cantautores' franceses.Um daqueles que alguém designou de 4 mosqueteiros da canção francesa:os outros foram Jacques Brel,Léo Ferré,Jean Ferrat.
Supplique pour être enterré à la plage de Sète
La Camarde qui ne m'a jamais pardonné,/D'avoir semé des fleurs dans les trous de son nez,/Me poursuit d'un zèle imbécile./Alors cerné de près par les enterrements,/J'ai cru bon de remettre à jour mon testament,/De me payer un codicille.//
Trempe dans l'encre bleue du Golfe du Lion,/Trempe, trempe ta plume, ô mon vieux tabellion,/Et de ta plus belle écriture,/Note ce qu'il faudra qu'il advint de mon corps,/Lorsque mon âme et lui ne seront plus d'accord,/Que sur un seul point : la rupture.//
Quand mon âme aura pris son vol à l'horizon,/Vers celle de Gavroche et de Mimi Pinson,/Celles des titis, des grisettes./Que vers le sol natal mon corps soit ramené,/Dans un sleeping du Paris-Méditerranée,/Terminus en gare de Sète.//
Mon caveau de famille, hélas ! n'est pas tout neuf,/Vulgairement parlant, il est plein comme un œuf,/Et d'ici que quelqu'un n'en sorte,/Il risque de se faire tard et je ne peux,/Dire à ces braves gens : poussez-vous donc un peu,/Place aux jeunes en quelque sorte.//
Juste au bord de la mer à deux pas des flots bleus,/Creusez si c'est possible un petit trou moelleux,/Une bonne petite niche./Auprès de mes amis d'enfance, les dauphins,/Le long de cette grève où le sable est si fin,/Sur la plage de la corniche.//
C'est une plage où même à ses moments furieux,/Neptune ne se prend jamais trop au sérieux,/Où quand un bateau fait naufrage,/Le capitaine crie : "Je suis le maître à bord !/Sauve qui peut, le vin et le pastis d'abord,/Chacun sa bonbonne et courage".//
Et c'est là que jadis à quinze ans révolus,/A l'âge où s'amuser tout seul ne suffit plus,/Je connu la prime amourette./Auprès d'une sirène, une femme-poisson,/Je reçu de l'amour la première leçon,/Avalai la première arête.//
Déférence gardée envers Paul Valéry,/Moi l'humble troubadour sur lui je renchéris,/Le bon maître me le pardonne./Et qu'au moins si ses vers valent mieux que les miens,/Mon cimetière soit plus marin que le sien,/Et n'en déplaise aux autochtones.//
Cette tombe en sandwich entre le ciel et l'eau,/Ne donnera pas une ombre triste au tableau,/Mais un charme indéfinissable./Les baigneuses s'en serviront de paravent,/Pour changer de tenue et les petits enfants,/Diront : chouette, un château de sable !//
Est-ce trop demander : sur mon petit lopin,/Planter, je vous en prie une espèce de pin,/Pin parasol de préférence./Qui saura prémunir contre l'insolation,/Les bons amis venus faire sur ma concession,/D'affectueuses révérences.//
Tantôt venant d'Espagne et tantôt d'Italie,/Tous chargés de parfums, de musiques jolies,/Le Mistral et la Tramontane,/Sur mon dernier sommeil verseront les échos,/De villanelle, un jour, un jour de fandango,/De tarentelle, de sardane.//
Et quand prenant ma butte en guise d'oreiller,/Une ondine viendra gentiment sommeiller,/Avec rien que moins de costume,/J'en demande pardon par avance à Jésus,/Si l'ombre de sa croix s'y couche un peu dessus,/Pour un petit bonheur posthume.//
Pauvres rois pharaons, pauvre Napoléon,/Pauvres grands disparus gisant au Panthéon,/Pauvres cendres de conséquence,/Vous envierez un peu l'éternel estivant,/Qui fait du pédalo sur la vague en rêvant,/Qui passe sa mort en vacances.//
Vous envierez un peu l'éternel estivant,/Qui fait du pédalo sur la plage en rêvant,/Qui passe sa mort en vacances,//
LXXV Ao que, por culpa tua, chegou a minha alma, Lésbia! Até que ponto, pela sua fidelidade, ela se perdeu! Já te não pode querer bem, ainda que te tornes a melhor das mulheres, mas também não pode deixar de te amar, mesmo que para isso tudo faças
Catulo – 25 Carmes–edição bilingue Trad. e notas de Albano Martins Editoralicorne.blogspot.com
(de e com Stevie Wonder, Dionne Warwick, Luther Vandross & Whitney Houston)
And i never thought i'd feel this way And as far as i'm concerned I'm glad i got the chance to say That i do believe i love you And if i should ever go away Well, then close your eyes and try To feel the way we do today, And then if you can remember, Keep smiling, keep shining, Knowing you can always count on me For sure That's what friends are for For good times and bad times I'll be on your side forever more. That's what friends are for I never thought i'd feel this way Well you came and opened me And now there's so much more i see And so, by the way, i thank you. And then for the times when we're apart Well, then close your eyes and know These words are coming from my heart And then if you can remember Keep smiling, keep shining Knowing you can always count on me For sure That's what friends are for In good times and bad times I'll be on your side forevermore That's what friends are for
Na noite da minha morte Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo... E os campos libertos enfim da sua mágoa Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.
Na noite da minha morte Ninguém sentirá o encanto antigo Que voltou e anda no ar como um perfume... Há-de haver velas pela casa E xales negros e um silêncio que eu Poderia entender.
Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar Vejam subitamente... Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando, E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem Talvez só tu a não esqueças.
«Não é feliz, a vida em Raissa. Pelas ruas a gente caminha torcendo as mãos, ralha com as crianças que choram, apoia-se aos parapeitos sobre o rio de cabeça nas mãos, de manhã acorda de um mau sonho e começa logo outro. Entre as bigornas onde a toda a hora se esmaga os dedos com o martelo ou se pica com a agulha, ou nas colunas de números todos tortos dos registos dos negociantes e dos banqueiros, ou diante das filas de copos sobre o zinco dos balcões das tabernas, ainda bem que as cabeças baixas nos poupam a olhares turvos. Dentro das casas é pior, e nem é preciso entrar lá para sabê-lo: de Verão as janelas ressoam de brigas e de pratos quebrados.E no entanto, em Raissa, a cada momento há uma criança que de uma janela ri a um cão que saltou sobre um alpendre para morder um bocado de massa que caiu a um pedreiro que do alto do andaime exclamou: — Alegria minha, deixa-me pintar-te! — a uma jovem taberneira que atravessa a pérgula com um prato de carne nas mãos, contente por servi-lo ao fabricante de chapéus de chuva que festeja um bom negócio, uma sombrinha de renda branca comprada por uma grande dama para se pavonear nas corridas, enamorada de um oficial que lhe sorriu ao saltar a última barreira, feliz ele mas mais feliz ainda o seu cavalo que voava sobre os obstáculos vendo voar no céu um francolim, feliz ave liberta da gaiola por um pintor feliz por tê-la pintado pena a pena com manchinhas vermelhas e amarelas na miniatura daquela página do livro em que diz o filósofo: «Mesmo em Raissa, cidade triste, corre um fio invisível que liga um ser vivo a outro por um instante e a seguir se desfaz, e depois torna a estender-se entre pontos em movimento desenhando novas rápidas figuras de modo que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz que nem sequer sabe que existe».
- Nenhum homem vos pode revelar nada que não repouse já meio adormecido na manhã do vosso conhecimento.
O mestre que caminha à sombra do templo, entre os discípulos, não reparte a sua sabedoria mas antes da sua fé e do seu amor.
Se for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na casa da sabedoria, mas levar-vos-á aos umbrais do vosso próprio espírito.
O astrónomo pode falar-vos da sua compreensão do espaço, mas não pode dar-vos a sua compreensão.
O músico pode cantar para vós a melodia que enche todo o espaço, mas não pode dar-vos o ouvido que aprende o ritmo nem a voz que lhe devolve o eco.
E o que é versado na ciência dos números, pode falar nas relações dos pesos e medidas, mas não pode levar-vos até lá.
Porque a visão de um homem não pode emprestar as suas asas a outro homem.
E assim como cada um de vós se aguenta sozinho no conhecimento de Deus, assim deve estar sozinho no seu conhecimento de Deus e na compreensão da terra.
Sempre gostei desta canção, que data de 1784,e era muito ouvida na corte inglesa da época.Aqui, cantada por Nana Mouskouri.
Plaisir d'amour ne dure qu'un moment, Chagrin d'amour dure toute la vie. J'ai tout quitté pour l'ingrate Sylvie. Elle me quitte et prend un autre amant. Plaisir d'amour ne dure qu'un moment, Chagrin d'amour dure toute la vie. Tant que cette eau coulera doucement Vers ce ruisseau qui borde la prairie, Je t'aimerai, me répétait Sylvie, L'eau coule encore, elle a changé pourtant. Plaisir d'amour ne dure qu'un moment, Chagrin d'amour dure toute la vie.
Beber-te! como bebo o ar da vida... E como bebo a luz do sol doirado... E a poesia do templo consagrado... E o consolo no olhar da mãe querida... Como bebo nos livros do saber A palavra dos Deuses, e o segredo Da existência nas folhas do arvoredo... E em longas noites de cruel sofrer...
Como bebe no cálix o Deus-vivo Quem o não sente andar dentro de si... Como eu nesses teus olhos já bebi A água que hei-de beber enquanto vivo!
O grande problema da minha relação com os livros é o da vertigem de tudo o que nunca li. Não o de tudo o que nunca chegarei a ler, hélas! Mas o daquilo que sei que ainda hei-de ler e continua a ser uma compulsão, talvez a verdadeira utopia dos amanhãs que cantam na palavra escrita e mediada pela famosa arte da imprimissão.
E se eu te oferecesse uma rosa vermelha, da cor do sangue, para que o dia se alegrasse? Há dias assim, penso nas rosas vermelhas como se elas tivessem a magia de tudo transformar. Talvez me olhasses de outro modo talvez me oferecesses plantas do teu jardim e os frutos maduros do teu pomar. Talvez o chilrear dos pássaros nos seduzisse e eu deixasse de ser uma natureza morta!...
O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protectora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protector, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.
Não sei se a raiva é coisa dura, nem tenho intento de o saber; mas sei que amor, que pouco dura, é bem difícil de sofrer. Nome de amor nem deve ter: antes de flor, ou de verdura, visto passar tão a correr...
Nome de flor, ou de verdura, no coração do meu amante: dentro do meu, por desventura, chamei-lhe Rocha, ou Diamante - pois é tão forte e tão brilhante que nem a própria sepultura me há-de tornar menos constante.
Da autoria de Violetta Parra, teve, depois, muitos intérpretes - a mais conhecida de todas Mercedes Sosa. Basta procurar no youtube em Gracias a la vida.
"ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve"
O que temos de imortal, irmã, de verdadeiramente imortal em nós, não é essa ilusão de alma, mas apenas o nome.
Toda a Força reside no Nome, é ele que sempre acenderá na memória a lembrança daquela aquem amei - Márcia, Cristina, Soraya, Rosa - com aquela idade e naquele tempo.
Toda aparência é falsa, só o nome - que é imortal - importa.
Nem corpo nem alma, só o nome é a Musa, só o nome da Rosa.
Recentemente, entre a poeira de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal a uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga, frequentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica. Se há facto estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural. A coerência , a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes - quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade. Uma criatura de nervos modernos de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predilecções literárias, mas sensações reigiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária. Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm sobretudo, quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variãrão, como é de entender, consonte esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, é monarquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos de anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo, uma invenção de louco quando, ante uma solidão do mar, ele não souber de mais do que da “Odisseia”. Convições profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida. Quando é que despertaremos para a justa noção de que a política, a religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética - a estética dos que ainda não a podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumada às suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida.
Fernando Pessoa - in Os Portugueses - A opinião pública (1915)
É,naturalmente, um gosto, saber que este meu livro se encontra já editado no Brasil pela Companhia das Letras e que, assim, os jovens brasileiros terão mais fácil acesso aà obra do mais importante dos luso-brasileiros de sempre.Edição Companhia das Letras,2010
Por favor, respeita o meu silêncio, o silêncio é a minha melhor arma. Escutaste as minhas palavras quando fiquei silencioso? Sentiste a beleza do que disse quando não disse nada?
Nizar Kabanni,poeta sírio(1923-1998) trad. de Jorge de Sousa Braga
O nosso drama de portugueses, O nosso maior drama entre os maiores Dos dramas portugueses, É este apego hereditário à Forma: Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii, Às vírgulas certas, às quadras perfeitas, À estilística, à estética, à bombástica, À chave de ouro do soneto vazio, - Que põe molezas de escravatura Por dentro do que pensamos Do que sentimos, Do que escrevemos, Do que fazemos, Do que sentimos.
Carlos Queirós, Anti-Soneto– in Cadernos de Poesia, 1940 Encontrado no supl.Economia do jormal Expresso de 2.10.010
os fios de uma história entrelaçam-se de vez em quando e formam uma imagem na teia; de vez em quando, as personagens adoptam uma atitude entre si ou em relação à natureza, que deixa a história gravada como uma ilustração. crusoe retro-cedendo perante uma pegada, aquiles gritando contra ostroianos, ulisses dobrando um grande arco, christian a correr com os dedos nos ouvidos: todos estes são momentos culminantes na lenda, e todos ficaram impressos para sempre no olho da mente. podemos esquecer outras coisas; podemos esquecer as palavras, mesmo que sejam belas; podemos esquecer os comentários do autor, mesmo que sejam engenhosos e verdadeiros; mas estas cenas capitais, que põem a marca definitiva da verdade numa história e, de um só golpe, preenchem a nossa capacidade de prazer, adoptamo-las de tal modo no íntimo do nosso espírito que nem o tempo nem a maré podem apagar ou enfraquecer a sua impressão.
robert louis stevenson,a gossip on romance, memories an portraits