29/06/07

PÉROLAS - 113



Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
— flor do cotidiano —
é vôo de um pássaro
é uma canção.

Carlos Drummond de Andrade

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28/06/07

OS MEUS POETAS - 74



Talvez

Talvez nem tenha nome.
Anunciado só pelo frémito
da folhagem.
O riso invisível, o grito
de um pássaro, o escuro
da voz. Certa doçura,
certa violência.
O espesso, volúvel
tecido da noite agora a roçar
o corpo da água. E por fim
a muito lenta paixão
do fogo, sufocada.
Era o verão.



Eugénio de Andrade

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27/06/07

PENSAR - 64


[ a palavra ]

a palavra sozinha no escuro alteia o brilho do nada de onde nasce o pensamento. como quando nos fechamos nos olhos.
talvez haja uma palavra em torno da pequena luz que atravessa o escuro. uma palavra que desapareça à distância de um dedo, para logo dar lugar a outra, um silêncio e a sensação de estar mais próxima, mais próxima de si própria e da palavra seguinte. uma palavra verdadeira existindo em si mesma em união. sozinha como nós, eu sei, sozinha como nós. alteando o brilho do nada de onde nasce o pensamento. gostaria de a ver na claridade, lançada do fundo da nossa solidão.

António Ferro- in http://www.cadernos-amf.blogspot.com/

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26/06/07

OMNIA VINCIT AMOR - 80



Antes

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda

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25/06/07

LER OS CLÁSSICOS - 70







A mania das novelas


"Contarei a V. M. üa cousa que a meu pesar me lembra. Caminhava por Espanha e, entrando em ua pousada bem cheo de neve, não houve algum remédio para que a hóspeda ou suas filhas, que eram duas, me quisessem abrir um aposento em que recolher-me. E quanto eu mais apertava me desenganavam melhor de que nenhüa se levantaria donde estava sem acabar de ouvir ler certa novela, cuja história ia muito gostosa e enredada. E tal era a sofreguidão com que ouviam que nem ameaçando-as com que iria a outra pousada quiseram desistir de seu exercício, antes me convidavam que ouvisse os lindos requebros que Cardénio estava dizendo a Estefânia, que tudo isto rezava a boa novela. Enfim, eu me fui apear a outra parte e, voltando em breve tempo por aquele lugar, e perguntando pela curiosa leitora e ouvintes, me disseram que muito poucos dias despois as novelas foram tanto adiante que cada üa das filhas de aquela estalajadeira fizera sua novela fugindo com seu mancebo do lugar, como boas aprendizes da doutrina que tão bem estudaram."


D.Francisco Manuel de Melo – Carta de Guia e Casados

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24/06/07

RETRATOS DE UM PAÍS QUE QUASE JÁ NÃO HÁ - 16

O PRAZER DE LER - 65




EUREKA!


Vocês sabem o que são LIVROS?... imaginem-se num deserto, com sede, muita sede, a boca, os olhos, as mãos secas de letras, e de repente aparecerem LIVROS....

HÁ LIVROS!!!

maria gomes, feliz por ter surgido uma nova livraria no seu país, em Lobito, Angola

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23/06/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE»-12



Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...


Camilo Pessanha, Clepsydra
1ªpubl. em 1920 ;foto michael kenna

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22/06/07

DE AMICITIA - 59



Ideal da Amizade


A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?
E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança de uma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?


Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'

Nota; na edição brasileira este livro tem o título de »As Brasas»; em francês:«Les Braises»- não sei como é no original húngaro, mas para quem leu o livro (belíssimo) o título português é mais adequado)

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21/06/07

PORQUE ESTÁ AÍ O VERÃO



Reponho poema antigo :

Verão


O que há de novo na tarde
Verdadeiramente tarde
Verdadeiramente terna
É este gosto novo de cantar
É esta fome absurda de verão

Amélia Pais
publ.neste barco em 31.01.2005

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O PRAZER DE LER - 64



picasso, mulher a ler


os meus livros

Livros, ó mudos livros das estantes frias,
vivos no seu silêncio, ardentes na sua calma;
livros, os que consolam, veludos da alma,
e que sendo tão tristes nos dão alegrias!

Ao dia afadigado as minhas mãos renderam-se;m
as à noite lá fui procurá-los, amantes,
no côncavo do muro, onde, como semblantes,
me fitam, confortando-me, aqueles que viveram.

Bíblia, tão nobre Bíblia, horizonte estupendo
onde um dia fixei os olhos longamente,
tens sobre esses teus Salmos as lavas ardentes
e no seu rio de fogo o coração acendo!

Nutriste a minha gente com o teu forte vinho,
ergueste-os vigorosos no meio dos homens
e eu ergo-me enérgica ao dizer teu nome,
porque é de ti que venho, quebrei o Destino.

Depois de ti, com o seu amplo alarido eterno,
atravessou-me o sangue o sumo Florentino.
Perante a sua voz, como um junco me inclino;
e fantástica avanço nesse rubro inferno.

E para refrescar sobre o musgo orvalhado
a boca, ainda a arder com as chamas dantescas,
fui em busca das Flores de Assis, sempre tão frescas,
e na felpa deitei o peito descansado!

Eu vi Francisco, Aquele tão doce como as rosas,
pelo campo passar, mais leve que um suspiro,
beijando o peito em chaga e o aberto lírio,
pra beijar o Senhor, que respira nas coisas.

Poema de Mistral, cheio de sulco aberto
de manhã exalado, inspirei-te embriagada!
Vi Mireia espremer a fruta ensanguentada
do amor, e correr pelo atroz deserto.

Recordo-te também, refrão de mil doçuras,
verso de Amado Nervo, com peito de pomba,
que me suavizaste o contorno das lombas
quando te estava a ler nas minhas manhãs puras.

Nobres livros antigos, de folhas sebentas,
sois lábios sempre prontos a animar os tristes,
Amargura que veste um novo manto e insiste
desde Job até Kempis nessa voz dolente!

Eu amo-vos, ó bocas dos poetas idos
que ainda me consolam, desfeitas em poeira,
e que falam comigo à noite, à cabeceira,
junto ao meu candeeiro, em seus doces gemidos!

Gabriela Mistral (Chile)

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20/06/07

REVIVALISMOS 6-A



Tinha prometido - cumpro: a máquina, razoavelmente antiga,
mas já portátil,que tenho em casa - não é bonitinha?

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DO FALAR POESIA -67



Entre sonho e sonho

Por duas razões que resistem à especulação
O poema recolhe-se cedo
Ao corpo do poeta:

Ou porque o poema se priva de sonhar
Ou porque o guerreiro
Decidiu descansar!

Apenas entre mãos sonhadoras o poema dorme na posição correcta!

Boujema El Aoufi

trad Pedro Amaral
Encontrado in modus vivendi - http://amata.anaroque.com/

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19/06/07

DESASSOSSEGOS - 56




"... Eis aqui o céu e o inferno, o máximo de ilusões e a ausência completa de ilusões. Aqui as vaias, o sarcasmo, os apupos, os grandes insultos e a suprema mixórdia. Desmoronou-se tudo, todas as fachadas e todos os artifícios. Gritos, mais gritos, mais sarcasmos e insultos. – como eu te reconheço! E a ti! E a ti! - E a ti que és a figura silenciosa que há tanto tempo me persegues, calada e triste, e que eras a pior. Tu, que curvas a cabeça, sem nunca te pronunciares; tu, que sofres quando eu sofro, que te envolves em silêncio quando persisto neste caminho doloroso – como te reconheço! Dá gritos! Podes gritar à tua vontade (...)Agora estou nu e toda a mentira me é impossível; agora estou nu e todas as palavras são inúteis; agora estou nu diante da imensidade e não posso ao mesmo tempo com o céu e o inferno. Agora é pior, agora tanto faz resistir um dia como um século. (...) Estamos aqui a representar: a verdade é que não nos podemos ver. Eis-nos bichos em frente de bichos. (...)"


Raul Brandão,Húmus,- excertos

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18/06/07

LEITURAS - 44


[...]
Que palavras aquelas! Talvez tu não saibas, Léah, o mérito, a graça, o poder da candura. Nesse instante foste o assombro vivo, inocentemente expresso. (Era eu que tinha a alma cheia de venenos) E como se não fosse aquilo a primeira vez que nos falávamos (na verdade era a primeira vez que nos víamos); como se entre nós existisse uma velha amizade com musgo nas paredes, um amor já fossilizado em hábito, uma intimidade inconsciente, que um facto inesperado, um traço de carácter até então oculto viesse surpreender, tu exclamaste com mágoa e assombro, penalizada por me ter feito mal sem o saber: Então o senhor tinha ciúmes? E eu que não sabia! Meu Deus, se eu tivesse sabido... Desculpe! Toda tu te abriste e rescendeste como uma flor, e quase ias caindo para trás, ou assim me pareceu, pretexto meu talvez para te agarrar pela cintura. Léah, foi a partir desse instante, juro, que eu te amei. [...]

José Rodrigues Miguéis, Léah e outros contos

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17/06/07

REVIVALISMOS - 6




- foi a 1ªgrande revolução no modo de escrever - antes dos computadores. Já não tive nenhuma assim (Fernando Pessoa escrevia numa destas, já não lembro se Remington, se Royal) - quando comprei a primeira, era já mais leve e portátil. Mas tenho em casa uma antiga, que hei-de fotografar e mostrar...

Veja também atentamente o site:http://www.maquinasdeescreverantigas.com.br/

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CAMONIANAS - 33



mote
Há um bem que chega e foge;
e chama-se este bem tal
ter bem para sentir mal.

volta

Quem viveu sempre num ser,
inda que seja em pobreza,
não viu o bem da riqueza
nem o mal de empobrecer.
Não ganhou para perder;
mas ganhou com vida igual
não ter bem nem sentir mal.



Luís de Camões, Rimas

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16/06/07

TEM SIDO BOM NAVEGAR CONVOSCO



Porque os meus 100 000 visitantes têm contribuído para o ambiente amigável do blogue, deixo-vos, a agradecer-vos, e de novo, o meu primeiro post - de 14 de janeiro de 2005. Na altura ainda não sabia colocar imagens...



SEMEADORA DE POEMAS


Um dia chamaram-me assim: e eu gostei. Claro que gostaria mais de ser «indisciplinadora de almas», como Pessoa...ou como qualquer professor deveria ser...Inicio esta aventura da criação de um blogue, depois de resistir muito à ideia - mas acabei por concordar com amigos vários e aqui estou.Coloquei-o sob o signo de um dos mestres - aquele de que Pessoa disse ser mestre porque «ensinou a sentir veladamente»- Camilo Pessanha - a quem «roubei» um verso para nome deste blogue.E também sob a protecção de Mestre Caeiro*, o que recebia a visita de um Menino Jesus fugido do céu e tornado companhia de um poeta de visão nítida e coração limpo...Sou novata, pois, no espaço da blogolândia - e há muitas coisas que ainda não sei fazer...mas espero aprender e vir a tornar uma visita a este blogue um momento agradável...O que ele vai ser, o tempo o dirá...

*Na altura, a epígrafe no meu perfil era «Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura...» -voltei a repô - la agora

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DO FALAR POESIA - 66



A diferença que há

A diferença que há entre os estudiosos e os poetas
É que aqueles passam a vida inteira com o nariz num assunto
A ver se conseguem decifrá-lo, e estes
Abrem o livro, lêem três páginas, farejam as restantes
(nem sequer todas) e sabem logo do assunto
o que os outros não conseguiram saber.
Por isso é que
os estudiosos têm raiva dos poetas,
capazes de ler tudo sem ter lido nada
( e eles não leram nada tendo lido tudo).
O mal está em haver poetas que abusam do analfabetismo,
E desacreditam a gaya Scienza .



Jorge de Sena

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15/06/07

NOCTURNOS - 33



Na noite terrível


Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado – esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido –
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso – e foi afinal o melhor de mim – é que nem os Deuses fazem viver...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro –
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais
,A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.

Álvaro de Campos.Fernando Pessoa

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14/06/07

PÉROLAS - 112


flowers-foto de eli

No centenário de René Char


Dans nos ténèbres, il n'y a pas une place pour la Beauté.

Toute place est pour la Beauté.


René Char, (1907-1988)- Feuillets d'Hypnos


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DE AMICITIA - 58





Amizade

«Estas cartas, feitas de saudade e de ânsia, são uma lição de amizade, um «livro de instruções»,um «modo de usar» esse frágil e forte sentimento ,que Marcel Proust achava ainda mais perigosos, vão e decepcionante que o amor. Neles aprendemos que a amizade é um olhar que não se distrai, uma paciência impaciente, uma resposta sem pergunta. Aqui, as vozes de Sena e Sophia são-nos dadas na sua nítida mudez: acendem-se contra o escuro da vida e fazem acreditar que, mesmo no meio da destruição que nos cerca e que acaba sempre por nos alcançar, pode permanecer de nós o que nos faz maiores do que o tempo».

José Manuel dos Santos


–excerto de uma crónica – AMIZADE – a respeito da Correspondência entre Jorge de Sena e Sophia Andresen;IN Expresso-revista Actual – de 2.09.06

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13/06/07

PARA FERNANDO PESSOA, NO DIA DO SEUS ANOS




Terzas para Fernando Pessoa




Ó multifacetária face de ti mesmo
reverso de teus versos mais insuladores
onde revelas pênsil a palavra a esmo

E o eco do teu eco a eclodir nos tambores
faz-se volátil ressoar do teu retrato
nas elegias em que cantas desamores

Pois bem no fundo do teu mais íntimo trato
lá no recôndito de tua geografia
é que o vero signo reveste-se abstrato

Tu e os teus outros, e o teu Outro desafia
o gesto indecifrável do teu canto oblíquo
que logo reverdece em tua engenharia

Ó pêndulo que pende mais ao lado iníquo
a desvelar ocultas idiossincrasias
no labirinto azul do teu ser tão melífluo

que ao mesmo tempo traz amargas fantasias
adredemente enviesadas na vontade
ao avesso polissêmico das travessias

por quem a solidão quedou-se-te nos becos
na mais estranha fala perto da saudade

Ó Lisboa de outrora, de hoje, os teus degredos
de tão particulares e silenciosos
passaram como passos teus breves segredos

E voltas a escandir clarões licenciosos
no sol dessa saliva rubra como um halo
tecido em linha reta aos sons maliciosos

que seguem direções nas patas de um cavalo
e se vão semeando em brilho opalescente
até as pradarias por onde me resvalo

O que fica de ti é esse ir morrendo
como a lua de Durban alhures perdida
como as cartas de Ophélia ainda recendendo

o palor dessa paixão de contorno fendida.
Em sete vezes sete exauriste no aval
de Álvaro de Caeiro de Reis na medida

milenar e obscura da cruz do Santo Graal
que te fez cavaleiro da terra querida
para melhor cantar o teu chão Portugal.

Aníbal Beça

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12/06/07

DESASSOSSEGOS - 55





"Triste de mim, sem dor, a oscilar, ainda todo vibrante... queria mentir a mim mesmo, queria voltar - mas tudo me resvalava...(...) Breve o meu corpo tombava na terra firme, anoitecido em Alma - e tudo ruía ao meu redor: asas de insónia, galeões dourados, torres de prata, zimbório d'oiro...Tudo ruía - mas tudo ruía em sortilégio, noutras ruínas: o oiro, em seios perdidos; a prata, em glória abandonada..."

Mário de Sá-Carneiro - Céu em Fogo
In http://www.cadernos-amf.blogspot.com/

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11/06/07

LEITURAS - 43


"O bom Vilaça, no entanto, dando estalinhos aos dedos, preparava uma observação. Não se podia de certo ter melhor prenda que montar a cavalo com as regras... Mas ele queria dizer se o Carlinhos já entrava com o seu Fedro, o seu Tito Liviosinho...
- Vilaça, Vilaça, advertiu o abade, de garfo no ar e um sorriso de santa malícia, não se deve falar em latim aqui ao nosso nobre amigo... Não admite, acha que é antigo... Ele, antigo é...
- Ora sirva-se desse fricassé, ande abade, disse Afonso, que eu sei que é o seu fraco, e deixe lá o latim...
O abade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico os bons pedaços de ave, ia murmurando:
- Deve-se começar pelo latinzinho, deve-se começar por lá... É a base; é a basezinha!
- Não! latim mais tarde! exclamou o Brown, com um gesto possante. Prrimeiro forrça! Forrça! Músculo...
E repetiu, duas vezes, agitando os formidáveis punhos:
- Prrimeiro músculo, músculo!...Afonso apoiava-o, gravemente. O Brown estava na verdade. O latim era um luxo de erudito... Nada mais absurdo que começar a ensinar a uma criança numa língua morta quem foi Fabio, rei dos Sabinos, o caso dos Grachos, e outros negócios duma nação extinta, deixando-o ao mesmo tempo sem saber o o que é a chuva que o molha, como se faz o pão que come, e todas as outras coisas do Universo em que vive...
- Mas enfim os clássicos, arriscou timidamente o abade.
- Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E para isso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste nisto: criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolver exclusivamente o animal, armá-lo duma grande superioridade física. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... A alma é outro luxo. É um luxo de gente grande...
O abade coçava a cabeça, com o ar arrepiado.
- A instruçãosinha é necessária, disse ele. Você não acha, Vilaça? Que V. Ex.ª, Sr. Afonso da Maia, tem visto mais mundo do que eu... Mas enfim a instruçãosinha...
- A instrução para uma criança não é recitar Titire, tu patulae recubans... É saber factos, noções, coisas úteis, coisas praticas...Mas suspendeu-se: e, com o olho brilhante, num sinal ao Vilaça, mostrou-lhe o neto que palrava inglês com o Brown. Eram de certo feitos de força, uma história de briga com rapazes que ele lhe estava a contar, animado e jogando com os punhos. O perceptor aprovava, retorcendo os bigodes. E à mesa os senhores com os garfos suspensos, por traz os escudeiros de pé e guardanapo no braço, todos, num silêncio reverente, admiravam o menino a falar inglês.
- Grande prenda, grande prenda, murmurou Vilaça, inclinando-se para a Viscondessa.A excelente senhora corou, através dum sorriso. Parecia assim mais gorda, toda acaçapada na cadeira, silenciosa, comendo sempre; e, a cada gole de Bucelas, refrescava-se languidamente com o seu grande leque negro e lentejoulado."


Eça de Queirós -Os Maias-excerto do capítulo III

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10/06/07

NO DIA DE CAMÕES E DE PORTUGAL


foto de ana assunção


Camões e a tença

Irás ao paço.Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou mais ser que a outra gente.
E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos do seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.



Sophia Andresen

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09/06/07

OMNIA VINCIT AMOR - 79

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POETAS MEUS AMIGOS - 52





Evanescente

Pétalas afagam
os meus dedos
quando te recordo

Lágrimas flutuam

ou estrelas
onde o silêncio desagua

Soledade Santos
http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/

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08/06/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 11



Foi um dia de inúteis agonias,
– Dia de sol, inundado de sol.
Fulgiam, nuas, as espadas frias.
– Dia de sol, inundado de sol.

Foi um dia de falsas alegrias.
– Dália a esfolhar-se, o seu mole sorriso.
Voltavam os ranchos das romarias.
– Dália a esfolhar-se, o seu mole sorriso.

Dia impressível, mais que os outros dias.
Tão lúcido, tão pálido, tão lúcido!
Difuso de teoremas, de teorias...

O dia fútil, mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias...
Tão lúcido, tão pálido, tão lúcido!

Camilo Pessanha, Clepsydra

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07/06/07

REVIVALISMOS - 5



...juntávamo-nos diante de objectos como estes para as notícias, (eu ouvi em 1958 o célebre «Obviamente demito-o» do General Sem Medo, Humberto Delgado, referindo-se a Salazar,assinando aí a sua sentença de exílio e de morte), a música (nacional-cançonetismo, mas também muita música francesa e mais tarde anglo-americana e brasileira), o teatro radiofónico (por vezes excelentes adaptações de romances clássicos por Odette de Saint Maurice, mais tarde radio-novelas, patrocinadas por detergentes),os Serões para Trabalhadores... esporadicamentee pela noite escura, e às escondidas, as estações proibidas, do exílio, Rádio Liberdade, Rádio Moscovo - cá dentro inventaram um «Rádio Moscovo não fala verdade»...para contrapor)...E foi em rádios assim,como estes... mais tarde surgiriam os transistors e as aparelhagens de HI FI.

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06/06/07

DA EDUCAÇÃO - 26



Muito fina, senhor Dr. Virgílio Couto. Eu tenho por eles além de amor, admiração. Tenho pena de não poder ter mais convivência individual com eles - trazer um por um a minha casa, estar cada dia com um deles, a falar, a ouvi-lo falar, a vê-lo por dentro. Que rapazes estupendos! Que sorte grande me caiu nas mãos!Hoje vai haver um exercício. Falei com o Aragão dois dias antes - foi comigo até à Avenida. Este Aragão é do melhor que eu conheço - inteligente e distinto; está ali alguém de quem eu direi mais tarde: - «É meu aluno» - (eu não tenho ex-alunos). Ora tendo eu dito que gosto de ver, nos exercícios, variedade de soluções, o Aragão, a certa altura propõe: «E o Senhor também aprende connosco, não é verdade? Nós mostramos-lhe coisas que o Senhor não via ou não via assim!» É isso mesmo, Aragão. E bem hajas por teres percebido que entre o ensinar e o aprender há tão pouca diferença que os dois conceitos se exprimem em francês pela mesma palavra.
Sebastião da Gama, Diário

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05/06/07

OS MEUS POETAS - 73



Lorca-por Robert.R.Lauer

La Cogida y la Muerte



A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde:
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde.
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡ Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!

Federico García Lorca (1898 - 1936)in "Llanto por Ignacio Sánchez Mejías" (1935) - publicado no dia do aniversário do seu nascimento

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DESASSOSSEGOS - 54




Fim

Somos como rosas que nunca se deram ao trabalho de
desabrochar quando deviam ter desabrochado e
é como se
o sol estivesse farto de
esperar.

Charles Bukowski
versão de manuel a. domingos

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04/06/07

CONTRA O ESQUECIMENTO



«Há 16 anos, Praça de Tien An Men enchia-se com dez mil estudantes que, desde 15 de Abril de 1989, construíam a 'Primavera de Pequim', depressa destruída,como a 'Primavera de Praga', em 1968. Chegariam os carros de combate e a repressão, em 4 de Junho. Continuamos sem saber o número de mortos nesse dia. E lembramos os muitos condenados à "bala na nuca", como apregoa a 'economia' chinesa. E o massacre.Às vezes, esquecemos depressa os cantos das libertações adiadas.E valorizamos a economia, esquecendo a escravatura de milhões: as 11 horas diárias de trabalho, um só dia de descanso por mês, os dezoito milhões de presos trabalhando gratuitamente, a ditadura de um partido, a pena de morte,o tráfico de órgãos, a ocupação do Tibete... Nesta manhã de sol, uma rosa para os mártires da LIBERDADE, na Praça de Tien An Men. E para todos os que sonham com ELA.»

in http://sopadenabos.blogspot.com/2005_05_01_archive.html

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LER OS CLÁSSICOS - 69




Sou coisa ligeira
Como a folha que é joguete da tempestade
....
Como o batel vogando sem piloto,
Como uma ave errante pelos caminhos do ar,
Não estou amarrado nem por âncora, nem por cordas
....
A beleza das raparigas feriu o meu peito,
As que não posso tocar, possuo-as com o coração
....
Censuram-me, depois, pelo jogo.
Mas assim que o jogo
Me deixa nu, com o corpo frio, o meu espírito aquece.
É então que a minha musa compõe as suas melhores canções
....
Em terceiro lugar, falemos da taberna
....
Quero morrer na taberna
Onde os vinhos estiverem perto da boca do moribundo,
Depois os corpos dos anjos descerão cantando:
«Que Deus seja clemente para com este bom apreciador»
...
Mais ávido de volúpia que da salvação eterna,
Com a alma morta, só a carne me preocupa
....
Como é duro domar a natureza!
E, à vista das belas, permanecer puro de espírito.
Os jovens não podem seguir uma tão dura lei
Nem esquecer o corpo disponível.


Nota : Estes poemas/canções medievais dos Goliardos foram retirados do livro de Jacques Le Goff, Os intelectuais na Idade Média, Gradiva Publicações, 2ª.ed. 1990

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03/06/07

RETRATOS DE UM PAÍS QUE (quase) JÁ NÃO HÁ - 15

NOCTURNOS - 32




Na minha noite

Na minha noite, infelizmente tão curta
o vento está prestes a encontrar-se com as folhas
das árvores
na minha noite, tão breve, e plena de uma angústia devastadora
ouve
ouves o sussurro das sombras?
esta felicidade é-me desconhecida
estou habituada ao desespero.

Ouves o sussurro das sombras?
ali, na noite, algo acontece
a lua é vermelha e ansiosa
e sobre este telhado
que a qualquer momento pode ruir
as nuvens, qual procissão de carpideiras
aguardam o nascimento da chuva.
um segundo
depois nada
atrás desta janela a noite treme
e a terra pára de girar
atrás desta janela
qualquer coisa desconhecida inquieta-se comigo e contigo

Tu, verde dos pés à cabeça
coloca as tuas mãos, essas memórias
escaldantes,
nas minhas mãos amorosas
entrega os teus lábios ao toque
dos meus lábios amorosos
repletos do calor da vida
o vento levar-nos-á
o vento levar-nos-á.


Forough Farrokhzad

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02/06/07

DE AMICITIA - 57



Porque só por «amicitia» o Augusto Mota fez, de um verso meu, esta«coisa» linda.Fico-lhe grata.E também porque é tempo de papoilas.

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OS MEUS POETAS - 72



mother's Love-by-kolongi


Mãe


Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!


Antero de Quental

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01/06/07

OMNIA VINCIT AMOR - 78



o beijo.francesco hayez

Amo e conheço.
Eis porque sou amante
E vos mereço.

De entendimento
Vivo e padeço.

Vossas carências
Sei-as de cor.
E o desvario
Na vossa ausência.

Sei-o melhor.

Tendes comigo
Tais dependências
Mas eu convosco
Tantas ardências

Que só me resta
O amar antigo:
Não sei dizer-vos
Amor, amigo

Mas é nos versos
Que mais vos sinto.
E na linguagem
Desta canção

Sei que não minto.

Hilda Hist


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