28/06/07

OS MEUS POETAS - 74



Talvez

Talvez nem tenha nome.
Anunciado só pelo frémito
da folhagem.
O riso invisível, o grito
de um pássaro, o escuro
da voz. Certa doçura,
certa violência.
O espesso, volúvel
tecido da noite agora a roçar
o corpo da água. E por fim
a muito lenta paixão
do fogo, sufocada.
Era o verão.



Eugénio de Andrade

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