31/05/06

DA EDUCAÇÃO - 14

«Humilhados e Ofendidos»

É duro e muito injusto o modo como vêm sido tratados os professores e as escolas pela actual equipa ministerial - e por alguns meios de informação, que funcionam como uma espécie de delegados de propaganda. de novos SNI(s) .

Assim, sugiro a leitura atenta do texto da petição agora iniciada -on line e, caso concorde, a sua subscrição.

ver em http://www.petitiononline.com/piprep/petition.html

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PENSAR -45


escultura de João Conde - na sua casa em Mirandela

Do interesse


Leio, passo meu tempo a ler. Sou uma criatura do livro, mas tenho um bom número de outras paixões. (...) A solidão é, sem dúvida, a grande prova. Valerá a pena viver-se, viver consigo próprio? De uma maneira que sou incapaz de formular, redescobrimo-nos sós no mais fundo do amor e da sexualidade. Como na morte. As sociedades de consumo e as utopias igualitárias tentaram fazer com que o esquecêssemos. Pelo meu lado, foi uma coisa que sempre me pareceu evidente. A morte, sinto que será uma coisa interessante. Receio que não seja um interesse a partilhar.

Georges Steiner
( entrevista por Ronald A. Sharp, in Os Logocratas, ed. Relógio D'Água, trad. Miguel Serras Pereira.)

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29/05/06

POETAS AMIGOS - 35




aqui espero
o raio que ilumine
o odor que incite
a beleza da flor que acalme

espero aqui
o desabrochar


antónio cardoso pinto

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DE AMICITIA - 40




«É bom falar de amigos.»

Jorge Silva Melo
( no programa Câmara Clara-DA RTP 2)

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28/05/06

NOCTURNOS - 5



A lua é como um espelho
cujo cristal foi embaciado
pelos suspiros das donzelas.
E a noite veste-se com a luz da sua lâmpada
como a negra tinta se veste com a brancura do papel.

Ibn Burd (1005-1054)
Trad. de David Mourão-Ferreira

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LER OS CLÁSSICOS - 45



Horas breves do meu contentamento,
nunca me pareceu quando vos tinha,
que vos visse tornadas tão asinha
em tão compridos dias de tormento.

Aquelas torres que fundei no vento,
o vento mas levou, que mas sustinha;
do mal que me ficou, a culpa é minha,
pois sobre cousas vãs fiz fundamento.

Amor com brandas mostras aparece,
tudo possível faz, tudo assegura,
mas logo no melhor desaparece.

Ó cegueira tamanha! ó desventura!
Por um pequeno bem que desfalece
aventurar um bem que sempre dura!

Diogo Bernardes -S.XVI

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27/05/06

LEITURAS - 7



[A flor azul]

Ébrio de êxtase, embora consciente das mais ínfimas sensações, deixou-se arrastar pelo fluxo luminoso que, do tanque, se ia perder entre rochedos. Caiu numa espécie de doce sonolência, sonhou com indescritíveis aventuras, das quais foi despertado por uma nova visão. Encontrava-se deitado sobre a relva fofa, à beira de uma fonte que parecia, ao brotar, desvanecer-se nas alturas. A poucos passos, erguiam-se uns rochedos de um azul escuro raiado de veios multicores; a luz que o banhava era mais suave e límpida do que habitualmente, o céu, de um negro azulado perfeitamente puro. Porém, o que o atraiu e fascinou irresistivelmente, foi uma flor alta, de um azul etéreo que, debruçando-se à beira da fonte, o roçava com as suas largas pétalas luminosas. À sua volta, um cem número de flores ostentava os seus variados tons, e um perfume dos mais deliciosos enchia de fragrâncias o ar. Ele, todavia, só tinha olhos para a Flor Azul, e longo tempo ficou a contemplá-la tomado de uma indescritível ternura. Quando ia a aproximar-se, a flor começou, de repente, a mover-se e a transformar-se: as folhas, cada vez mais brilhantes, estenderam-se ao longo do caule, que se alongava, e a Flor inclinou-se para ele, desenhando as suas pétalas uma gola azul à roda de um rosto terno e flutuante[.......]

Novalis - Heinrich D' Ofterdingen - A Espera

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DO FALAR POESIA - 50




Poeta, divina é a Palavra
na pura Beleza o céu repousa
toda a alegria nossa: e o Verso é tudo.

Gabrielle d’Annunzio

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26/05/06

PÉROLAS - 74



Carta

Que farei, mãe?
Meu amado está à porta.

Yosef Ibn Saddio – s.XI-XII

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OS MEUS POETAS - 53



Taciturna arte

No meu ofício ou taciturna arte
Exercida na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes repousam já na cama
Com toda a sua dor nos próprios braços,
Trabalho ao som da luz
Mas não por ambição nem pelo pão
Nem por vaidade ou tráfico de encantos
Realizado em palcos de marfim,
Apenas sim para o comum salário
Do que em seus corações há de secreto.

Dylan Thomas
- trad. de David Mourão-Ferreira, in Vozes da Poesia Europeia, Colóquio Letras nº 165.

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25/05/06

RECOMENDO




[Ontem] morreu "O Livro de Cesário Verde": vivam os Cânticos do Realismo
Ontem fez-se história.* Teresa Sobral Cunha arrumou definitivamente um velho tabú da literatura portuguesa. O erroneamente crismado "Livro de Cesário Verde" - título da lavra de Silva Pinto - dado à estampa em 1887, chama-se, afinal, Cânticos do Realismo, conforme vontade expressa do poeta em carta publicada no Diário da Tarde em Novembro de 1883, : "as poesias vão dentro em pouco ser publicadas em volume, sob o título Cânticos do Realismo". Num notável trabalho filológico e interpretativo, marcado pela absoluta racionalidade com que a investigadora devasta mitos e lugares-comuns, mas animada igualmente por uma paixão declarada por Cesário, Teresa Sobral Cunha é a antítese de um meio académico que prefere a mentira canónica à verdade. Ontem fez-se história. A partir de hoje acabou o "Livro de Cesário Verde". Se quiserem referi-lo com propriedade, usem, pf, Cânticos do Realismo.
http://combustoes.blogspot.com/

* o «ontem» refere-se ao dia 20 de abril de 2006 ; confirmo, porque já o li, a opinião expressa; é, a meu ver, a edição definitiva de Cesário Verde.

DESASSOSSEGOS - 34



Muros

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,
ergueram à minha volta altos muros de pedra.

E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio me depreda.

E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.

Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.


Konstantinos Kaváfis
Trad de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis – Poemas-Relógio d’Água, 2005

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24/05/06

LEITURAS - 6



[um autor a revisitar]


Que palavras aquelas! Talvez tu não saibas, Léah, o mérito, a graça, o poder da candura.Nesse instante foste o assombro vivo, inocentemente expresso.( Era eu que tinha a alma cheia de venenos) E como se não fosse aquilo a primeira vez que nos falávamos (na verdade era a primeira vez que nos víamos); como se entre nós existisse uma velha amizade com musgo nas paredes, um amor já fossilizado em hábito, uma intimidade inconsciente, que um facto inesperado, um traço de carácter até então oculto viesse surpreender, tu exclamaste com mágoa e assombro, penalizada por me ter feito mal sem o saber: Então o senhor tinha ciúmes? E eu que não sabia! Meu Deus, se eu tivesse sabido... Desculpe! Toda tu te abriste e rescendeste como uma flor, e quase ias caindo para trás, ou assim me pareceu, pretexto meu talvez para te agarrar pela cintura. Léah, foi a partir desse instante, juro, que eu te amei.

José Rodrigues Miguéis - in Léah e Outras Histórias

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POETAS AMIGOS - 34



Met_ades

a vida me faz em metades:
_ metade gente
_metade bicho
_metade natureza
_metade alegria
_metade tristeza

tem dias que que carrego o mundo,
dentro de mim.
em outros, sou vazio sem fim.

tem dias que uivo,
noite adentro.
em outros gorjeio, feito ave.
adejando-me por entre nuvens e ventos,
às vezes piso em marte.

tem dias que chovo,
ora fina, ora torrencialmente.
em outros broto-me, semente.

já desabrochei flor,
já despontei sol,
já adormeci loba,
já amanheci rouxinol.


muitas vezes tento juntar as partes.
nunca consigo!

elas se rejeitam...sofrem de incompatibilidades.

assim me levo ... tempo que segue, pedaços- metades!

Ana Merij

[Obs.:De há uns anos a esta parte, perdi o contacto com esta amiga - guardo-lhe, contudo, os poemas].


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23/05/06

ESCREVER -33



Declaração de amor

Esta é uma declaração de amor:
amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil. Não é maleável.
E, como não foi profundamente trabalhada pelo
pensamento, a sua tendência é a de não ter sutileza
e de reagir às vezes com um pontapé contra
os que temerariamente ousam transformá-la
numa linguagem
de sentimento de alerteza.
E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro
desafio para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e
das pessoas a primeira capa do superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes assusta com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la - como gostava de estar
montando num cavalo e guiá-lo pelas rédeas,
às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse
ao máximo nas minhas mãos. e este desejo
todos os que escrevem têm.
Um Camões e outros iguais não bastaram para
nos dar uma herança de língua já feita. Todos nós
que escrevemos estamos fazendo do túmulo do
pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos.
Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi
aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever
e me perguntassem a que língua eu queria pertencer,
eu diria: inglês, que é preciso e belo.
Mas como nasci muda e pude escrever,
tornou-se absolutamente claro
para mim que eu queria mesmo era escrever em português.
Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só
para que minha abordagem do português
fosse virgem e límpida
Clarice Lispector

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22/05/06

OMNIA VINCIT AMOR - 51


Cheio de razão é o amor

Beije - me ele com os beijos da sua boca
Amor melhor do que o vinho.

- Delicado é o aroma dos teus perfumes,
e teu nome, unguento que se derrama.
Por isso te amam, as virgens.

Leva-me contigo, corramos juntos.

O rei levou-me para as suas câmaras.


- Tu serás o nosso júbilo, a nossa alegria.
Cantaremos teu amor mais que o vinho.
Cheio de razão é o amor de quem te ama.

Salomão, Cântico dos Cânticos

- trad.de Herberto Hélder

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21/05/06

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 15


foto de ana assunção


Rosa, ó contradição pura, volúpia
de ser o sono de ninguém sob tantas pálpebras.

Rainer Maria Rilke - Epitáfio para o seu túmulo

[encontrado in digitalis - http://mhroque.blogspot.com/]

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20/05/06

PÉROLAS - 73




Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.

Cecília Meireles

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19/05/06

O PRAZER DE LER - 43


imagem:Carpaccio

[Os livros]


secrecia de papel ou pele

dóceis
ao toque da mão às papilas do olhar
os livros

mar ao vagar dos dedos
onde corre livremente o tempo
sem nunca tomar a direcção da morte

velhos companheiros da luxúria vária
e da mais provada fidelidade

cada um
uma luva
um bisturi
um sortilégio

Soledade Santos -1999

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18/05/06

OS MEUS POETAS - 52



un grand vaisseau d'or, au dessus de moi,
agite ses pavillons multicolores sur les brises du matin

[um grande navio de ouro, bem por cima de mim
agita seus pendões multicolores nas brisas da manhã]


Arthur Rimbaud- Une saison en enfer- excerto

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17/05/06

LEITURAS - 5



[…....]

Corre a nuvem, de cinzenta que era passou a ser leitosa e brilhante, o céu atrás dela tornou-se negro, é noite, as estrelas acenderam-se, a lua é um grande espelho resplandecente que voa. Quem reconheceria agora nela a lua de algumas horas atrás? Agora é um lago de luminosidade, que espalha raios de luz à sua volta, entornando no escuro um halo de fria prata e inundando de branca luz o caminho dos noctívagos.
Não restam dúvidas de que aquela que agora começa é uma esplêndida noite de plenilúnio de Inverno. Nesta altura, tendo-se assegurado de que a lua já não necessita dele, o senhor Palomar regressa a casa.

Italo Calvino, Palomar
Ed.Teorema. Lisboa

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NOCTURNOS - 4




Aves e quedas de água

Dormem os homens, caem flores de acácia.
Serena a noite de Primavera na montanha vazia.
A lua cheia eleva-se no céu,
os pássaros perturbados voam no espaço.
Os gritos das aves, de quando em quando,
entrecortando o ruído da água nas cascatas.

Wang Wei

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16/05/06

POETAS AMIGOS - 33




os girassóis
dura delícia

esse gostar de ti
como de certa tela
de Vincent Van Gogh

- inclemente amarelo
pétalas a incharem
olhar parado, escaldante
orvalho:

trêmulas jóias
de sal



(e também

áspero
ocre
jazendo no canto
- em sombra )

Felipe K.
in http://felipesudo.blog.uol.com.br/

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15/05/06

CAMONIANAS - 15



«Ó mar salgado quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal?»

88
A gente da cidade, aquele dia,
(Uns por amigos, outros por parentes,
Outros por ver somente) concorria,
Saudosos na vista e descontentes.
E nós, co a virtuosa companhia
De mil religiosos diligentes,
Em procissão solene, a Deus orando,
Pera os batéis viemos caminhando.


89
Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.

90
Qual vai dizendo: "Ó filho, a quem eu tinha
Só pera refrigério e doce emparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Porque me deixas, mísera e mesquinha?
Porque de mi te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento
Onde sejas de pexes mantimento?"

91
Qual em cabelo: "Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Porque is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha e não é vossa?
Como, por um caminho duvidoso,
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento,
Quereis que com as velas leve o vento?"

92
Nestas e outras palavras que diziam,
De amor e de piadosa humanidade,
Os velhos e os mininos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão co elas se igualavam
.

93
Nós outros, sem a vista alevantarmos
Nem a Mãe, nem a Esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assi nos embarcarmos,
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa.


Os Lusíadas, IV,88-93

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14/05/06

PENSAR - 44



a beleza não é poliglota. o próprio murmúrio que faz ao acordar é universal sem precisar de língua materna. aliás,a beleza não tem sequer um código que chame a si mesmo um batalhão de interpretações . a beleza quando nasce é imediatamente deus.

Jorge Pereira
In http://extensamadrugada.blogspot.com/

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13/05/06

DESASSOSSEGOS - 33


foto de Soledade Santos

He dado el salto de mí al alba.
He dejado mi cuerpo junto a la luz
Y he cantado la tristeza de lo que nace.

Alejandra Pizarnik, Árbol de Diana, 1964


Dei o salto de mim até ao amanhecer.
Deixei o meu corpo junto à luz
e cantei a tristeza do que nasce.


tradução de - Sandra Costa
in http://tempodual.blogspot.com/

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12/05/06

OMNIA VINCIT AMOR - 50



... Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece

nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.

Eugénio de Andrade

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11/05/06

LER OS CLÁSSICOS - 44


Daumier-Quijote

"La Libertad, Sancho,es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los Cielos,con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre."

Miguel de Cervantes - D.Quijote

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10/05/06

O PRAZER DE LER - 42


foto:Robert Bereny

Não sei qual o primeiro livro que me foi lido, nem a primeira história que me fora contada. No entanto, lembro-me de um dos que li, "Um amigo mesmo a sério". Recordo-me de o desfolhar vezes sem conta, e das tantas vezes que o fiz acabei por o decorar. Sabia exactamente o que dizia em cada uma das suas páginas, cada traço,cada letra, pareciam conter uma magia que ainda hoje me cativam sempre que o abro. Foi um dos poucos que resistiu à fúria desmedida da minha irmã, que desde cedo teve queda para as artes e decidiu completar as ilustrações dos livros. Ainda hoje mora na minha estante e, por algum motivo, parece que o tempo por ele não passa. Chego mesmo a pensar que, se o abrir e fechar os olhos, ainda consigo recordar o cheiro, a cor, a magia,...da primeira vez.

Vera Bateira - in http://sininhuh.blogspot.com/

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03/05/06

ATÉ BREVE !



Mais uma corrida, mais uma voltinha...
Até breve!

NOCTURNOS - 3



Eu não voltarei

Eu não voltarei.E a noite
morna,serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,

e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.
Ignoro se alguém me aguarda

de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.
Mas haverá estrelas, flores

e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.
E tocará esse piano

como nesta noite plácida
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.



Juan Ramón Jimenez

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02/05/06

PÉROLAS - 72



Chegaste
com a tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
umas folhas aqui e ali
uns ramos
que não doeram...
Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.

Yvette Centeno

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POEMAS COM ROSAS DENTRO - 14




De «cem frases para leques »


Tu
chamas-me Rosa
diz a rosa
mas se tu soubesses
o meu verdadeiro nome
logo eu
me desfolharia


Somente a rosa
é suficientemente frágil
para exprimir
a Eternidade

Paul Claudel
Trad. de David Mourão-Ferreira

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01/05/06

ESCREVER - 32




Ser mulher...

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

Lya Luft

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