30/04/06

LER OS CLÁSSICOS - 43


chagall- os amantes com copo de vinho


Deita-me água, rapaz, deita-me vinho
e tece-me grinaldas de mil flores.
Meu coração arrisco, depois disto,
para lutar então com o próprio Amor.

Anacreonte (s.VI - V a.C)

Trad. de David Mourão - Ferreira

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29/04/06

INESIANAS - 15



[Do soneto de Dona Inês de Castro]

............................................................

Se vês, Inês, a alma de meus olhos,
Lá do céu em que pisas palma e cedro,
Mais que loureiro aqui e fé constante,

Verás que sou, honrando teus despojos,
Português em amor, em rigor Pedro,
Rei no seu poder, e na vingança amante.

Lope de Vega (1562-1635)

Trad. de David Mourão-Ferreira

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28/04/06

DO FALAR POESIA - 49


foto:ana assunção

Poeta o que é?

Poeta o que é?
Um homem que leva
o facho da treva
no fundo da mina
- mas apenas vê
o que não ilumina.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante

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DA EDUCAÇÃO - 13





(...) Se por acaso, não sei por que excesso de socialismo ou de barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, excepto uma, é a disciplina literária que deveria ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário.(...)

Roland Barthes, in A aula

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27/04/06

DESASSOSSEGOS -32




Sou uma criatura



Como esta pedra
do S. Miguel *
assim fria
assim dura
assim enxuta
assim refractária
assim totalmente
desanimada
como esta pedra
é o meu pranto
que não se vê


A morte
desconta-se
vivendo.

Giuseppe Ungaretti
*creio ser uma referência ao cemitério de Veneza

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26/04/06

DE AMICITIA - 39


... também com humor se fazem e mantêm amizades...



- encontrado no blogue rio abaixo -http://www.rioabaixo.blogspot.com/

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25/04/06

32 ANOS DEPOIS ...


magritte

Pôr no peito a liberdade
dobada na sua entrega
compondo alma e avesso
que mesmo assim não sossega

Liberdade sem bandeira
em país reencontrado

Coração incendiado
num Portugal que por certo
não lhe quer perder o hábito

Flor posta à botoeira
cousa que brota e não cessa

E rara experiência é essa
poder escrever liberdade
sendo livre e já sem pressa


Maria Teresa Horta

- os jornais do dia, libertos da censura - ver rodapé do República - traziam,finalmente, a esperança.

Por mim, continuo fiel…a essa esperança de que as expectativas de há 32 anos se cumpram e o nevoeiro se dissipe...

Nota:se desejar pode ler mais em Noticias do Antigamente - arquivos de abril de 2005 - neste blogue

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24/04/06

NOCTURNOS - 2




Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.


Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa

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23/04/06

CAMONIANAS - 14



Ondados fios de ouro reluzente,
Que agora da mão bela recolhidos,
Agora sobre as rosas estendidos
Fazeis que sua graça se acrecente;

Olhos, que vos moveis tão docemente,
Em mil divinos raios encendidos,
Se de cá me levais alma e sentidos,
Que fora, se de vós não fora ausente?

Honesto riso, que entre a mor fineza
De perlas e corais nace e parece,
Se n'alma em doces ecos não o ouvisse!

Se imaginando só tanta beleza,
De si, em nova glória, a alma se esquece,
Que será quando a vir? Ah! quem a visse!


Luís de Camões, Rimas

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22/04/06

DO FALAR POESIA - 48



Arte Poética

Que o verso seja como chave
que abra mil portas.
Uma folha cai, algo passa voando;
quanto os olhos fitam criado seja,
e a alma do ouvinte fique palpitando.

Inventa novos mundos, cuida da palavra;
o adjectivo quando não dá vida, mata.

Estamos no céu dos nervos.
O músculo pende,
Como recordação, nos museus;
mas nem por isso temos menos força:
o vigor verdadeiro
reside na cabeça.

Porque cantais a rosa, poetas?
fazei-a florir no poema.

Só para nós
vivem sob o sol as coisas todas.

O poeta é um pequeno Deus.


Vicente Huidobro
Tradução de Jorge de Sena, em Poesia do Século XX, 3ª Ed., Asa, Porto, 2003.)

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21/04/06

PÉROLAS - 71



"Com o vento murmuram,
minha mãe, as folhas,
e ao som adormeço
sob a sua sombra."

Anónimo - Romancero General de Espanha, séc. XVII

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20/04/06

OMNIA VINCIT AMOR - 49




Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme
fiel
e verdadeiramente.

Maiakovsky

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19/04/06

CONTRA O ESQUECIMENTO

Imagem:Von dem Christeliche - um cataclismo se abateu sobre Lisboa

[Vi qe em Lixboa se alçaram]

Vi qe em Lixboa se alçaram
Pouo baixo & villãos
Contra os nouos Christãos
Mais de quatro mil matarã
Dos qe ouuerão nas mãos.
Hũos delles viuos queimarã
Mininos espedaçarão
Fizerão grandes cruezas
Grandes roubos & vilezas
Em todos quantos acharão.
Estando só ha cidade
Por morrerem muito nella
Se fez esta crueldade
Mas el rey mandou sobrella
Cõ muy grande breuidade
Muitos forão justiçados
Quantos acharão culpados
home baixos & bragantes
& dous frades observãtes
vimos por isso queimados.
El rey teue tanto a mal
Ha cidade tal fazer
Qe o titulo natural
De noble & sempre leal
Lhe tirou & fez perder.
Muytos homens castigou
& officios tirou
depois que Lixboa vi
otudo lhe restituyo
& o titulo lhe tornou

Garcia de Resende, contemporâneo dos factos

Como se passaram as coisas-excerto

«Vai fazer exactamente 500 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. [...] Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal»-Nuno Guerreiro -[In Rua da Judiaria onde encontrei este poema e outros testemunhos contra o esquecimento -http://ruadajudiaria.com/ Recomendo a leitura de todos os textos aí inseridos].

18/04/06

NOCTURNOS - 1



Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos coloridos.

Amei o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho.

A noite por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.


Casimiro de Brito

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17/04/06

LER OS CLÁSSICOS - 43



Antífona

Ó coruscante luz das estrelas,
ó esplêndida especial beleza de núpcias reais,
ó fúlgida gema,
em excelsa pessoa és ornamento
sem qualquer maculada ruga.
És também sócia dos Anjos
e concidadã dos santos.
Foge, foge ao antro do inimigo antigo,
e apressada vem ao palácio do Rei.


Hildegard von Bingen
(1098 - 1179)
Tradução: Joaquim Félix de Carvalho e José Tolentino Mendonça

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16/04/06

PENSAR - 43



“Onde encontrarmos algo que se pareça com a música devemos deter-nos; na vida não existe nada que valha mais a pena alcançar do que o sentimento da música, o sentimento de ressonância e de uma vida com ritmo, da justificação harmónica da existência. Onde houver tudo isto, poderá haver ainda coisas por explicar; a verdade é que ainda há muito por explicar em todos nós.”
Hermann Hesse, Carta a Ludwig Renner,
(publicada em Música, Lisboa 2003).

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15/04/06

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» -2


foto de j. coutinho

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a húmida areia.
A fugitiva hora, revoquei-a,
—Tão rediviva! Nos meus olhos baços...

Olhos turvos de lágrimas contidas.
— Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?

Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...

Toda essa extensa pista — para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Como as do novo rasto que começa...


Camilo Pessanha

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14/04/06

PÉROLAS - 70



Procuramos por toda a parte
O que está para além das coIsas
E o que encontramos são apenas coisas.

Novalis - Fragmentos
Trad. de João Barrento

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13/04/06

À ESPERA DE GODOT

Samuel Beckett faria hoje 100 anos...





Segredos


"… No entanto, também há silêncios longos, de muito em muito longe, muito muito longe, durante os quais, como já não ouço nada, não digo nada. Isto é, se apurar o ouvido, ouço uns sussurros. Mas não são para mim, são só para eles, voltam a entender-se. Não ouço o que dizem, só sei que continuam ali, que ainda não acabaram comigo. Afastaram-se um pouco. São segredos …" -
Samuel Beckett, "O inominável"
(tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo).

[Encontrado no blogue http://cadecasa.blogspot.com/]

-cena de À espera de Godot -pelo Teatro da Comuna


ESCREVER - 31




Como escrevo
W.H. Auden

- Pode dizer alguma sobre a génese de um poema? O que vem primeiro?

"Em qualquer momento, tenho duas coisas em minha mente: um tema que me interessa e um problema de forma, metro, dicção, etc. O tema procura a forma certa; a forma procura o tema certo. Quando os dois se encontram posso começar a escrever."

- O senhor recorre a algo para inspiração?

"Nunca escrevo quando estou bêbado. Porque alguém precisaria de auxílio. A Musa é uma moça alegre que não gosta de ser cortejada com brutalidade ou grosseria. E ela não gosta de devoção submissa - aí ela mente"

[ entrevista a W.H. Auden por Michael Newman-Outono de 1972]

Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review.S.Paulo: Cia. das Letras. 1989.

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12/04/06

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 13

[ excerto do poema «Acordar da cidade de Lisboa...»]

.....................................

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Deita-me às mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...


[....]


Álvaro de Campos.Fernando Pessoa

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11/04/06

DO FALAR POESIA - 47




No seu jardim feito de tinta...
com insólita serenidade
o poeta percorre as áleas da memória
e caminhando por entre signos
contempla a distracção nula do tempo
o paradoxo incrível do ser
a ferida íntima da alma


Ana Hatherly

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10/04/06

LEITURAS - 4



"- as minhas mãos envolviam-me o rosto e eu chorava e soluçava tudo o que havia para chorar e soluçar. Não sei quanto tempo estive assim, mas, enquanto as lágrimas jorravam de dentro de mim, eu sentia-me feliz e sabia que nunca me tinha sentido tão feliz por estar vivo. Era uma felicidade incontrolável, uma felicidade para além do infortúnio, para além de toda a fealdade e beleza do mundo. Por fim, as lágrimas abrandaram, e eu fui até ao quarto mudar de roupa. Dez minutos depois, estava de novo na rua, a caminho do hospital para ir ver Grace."
Paul Auster , in A Noite do Oráculo

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09/04/06

LER OS CLÁSSICOS - 42



Soneto

Enquanto que de rosa e açucena
se revela o matiz no vosso gesto,
e que o vosso olhar ardente, honesto,
o coração inflama e serena;
e enquanto esse cabelo, que na plena
veia de ouro se escolheu, em voo lesto
no alvo colo, formoso e manifesto,
o vento move, esparge e desordena:
colhei da vossa alegre primavera
o doce fruto, antes que o tempo irado
cubra de neve o deslumbrante cume.
Fará murchar a rosa o ar gelado,
tudo a idade irá mudar, severa,
p'ra não fazer mudança em seu costume.

Garcilaso de la Vega (1501-1536)
tradução de José Bento- in "Antologia da Poesia Espanhola das Origens ao Século XIX"

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08/04/06

POETAS AMIGOS - 32




Carmen Cinira

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07/04/06

OMNIA VINCIT AMOR - 48


arpad szenes

No ouro sem fim da tarde morta

No ouro sem fim da tarde morta,
Na poeira de ouro sem lugar
Da tarde que me passa à porta
Para não parar,

No silêncio dourado ainda
Dos arvoredos verde fim,
Recordo. Eras antiga e linda
E estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses,
Teu gesto, sem que fosses alguém,
Como uma brisa me estremeces
E eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora
É suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
Sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio,
Uma lembrança falsa e vã,
E a noite deste vago anseio
Não tenha manhã.

Fernando Pessoa.

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06/04/06

DESASSOSSEGOS - 31





Um regaço para chorar

Onde está Deus, mesmo que não exista? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar ser perdoado como uma carícia não propriamente materna.
Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer... Poder ali chorar coisas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro...
Uma infância nova, uma ama velha outra vez, e um leito pequeno onde acabar por dormir, entre contos que embalam, mal ouvidos, com uma atenção que se torna morna, de perigos grandes - penetravam em jovens cabelos louros como o trigo... E tudo isto muito grande, muito eterno, definitivo para sempre, da estatura única de Deus, lá no fundo triste e sonolento da realidade última das Coisas...
Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço... Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar... O ruído de lume na lareira... Um calor no inverno... Um extravio morno da minha consciência... E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como a lua rodando entre estrelas...

Bernardo Soares .Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

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05/04/06

PENSAR - 42



Age sem agir, ocupa-te sem te ocupares.
Age pelo não-agir! Sê activo na inactividade!
Prova o que não tem sabor
Acha gosto no desgosto!
Vê o grande no pequeno!
Realiza o grande amando o pequeno.
Enfrenta o ódio empunhando o amor...
Vê da mesma forma o grande e o pequeno, o muito e o pouco.
Mostra-te indiferente a reprovações e elogios.
Assim faz o homem superior
Ele enfrenta as complicações nos seus detalhes mais fáceis
E se aplica aos grandes problemas analisando os seus princípios
Jamais o homem superior faz algo grandioso e por essa razão faz grandes coisas.
Quem muito promete não pode manter a palavra.
Quem considera tudo fácil sempre se embaraça.
O homem superior evita antecipadamente as dificuldades e, assim, nunca as terá.

Lao-Tse (604-531 a.C.)Tao Te King

encontrado in http://mnemosyne.blog-city.com/

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04/04/06

CAMONIANAS - 13



Da vontade cativa

Se da alma e do corpo tens a palma,
e do corpo sem alma não tens dó,
há dó do corpo só,que está sem alma,
pois sem alma não vive o corpo só.
Na chama, no ardor, no fogo e calma,
na afeição, no querer eu sou um só;
não acharás vontade mais cativa;
nem outra como a tua tão esquiva.

Se te apartas por não ouvir meu rogo,
onde estiveres te hei-de importunar;
posto que vá por água, ferro ou fogo,
contigo em toda a parte me hás-de achar;
que a chama que me abrasa é de tal fogo
que, enquanto eu vivo for, há-de durar;
e o nó que me tem preso é de tal sorte
que não se há-de soltar em vida ou morte.

Luís de Camõesfragmento da Écloga V-"A quem darei queixumes namorados"
-p.357 na ed. das Rimas – por Costa Pimpão

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03/04/06

O PRAZER DE LER - 41





um leitor

que outros se vangloriem das páginas que escreveram;
a mim orgulham-me as que li.
não terei sido um filólogo,
não terei inventado as declinações, os modos, a laboriosa mutação das letras,
o de que se endurece em ter
a equivalência do ge e do ka,
mas ao longo dos anos professei
a paixão da linguagem.
as minhas noites estão cheias de vergílio;
ter sabido e ter esquecido o latim
é uma posse, porque o esquecimento
é uma das formas da memória, a sua vaga cave,
a outra face secreta da moeda.
quando nos meus olhos se apagaram
as vãs aparências queridas,
os rostos e as páginas,
dei-me ao estudo da linguagem de ferro
que usaram os meus ancestrais para cantar
espadas e solidões
e agora, através de sete séculos,
desde a última thule,
chega-me a tua voz, snorri sturlson.
diante do livro , o jovem impõe-se uma disciplina rigorosa
e fá-lo atrás de um conhecimento rigoroso;
na minha idade qualquer empresa é uma aventura
que confina com a noite.
não acabarei de decifrar as antigas línguas do norte,
não mergulharei as mãos ansiosas no ouro de sigurd;
a tarefa que empreendo é ilimitada
e há-de acompanhar - me até ao fim,
não menos misteriosa do que o universo
e do que eu, o aprendiz.

Jorge Luiz Borges "elogio da sombra"

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02/04/06

PÉROLAS - 69




Ah, o passado,
o tempo onde se acumularam
os dias lentos.

Busson - s.XVII

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01/04/06

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 12



ROSA VERMELHA

Rosa vermelha
Rosa vermelha
Rosa vermelha

Ele levou-me ao jardim da rosa vermelha
E atou uma rosa vermelha às minhas madeixas trémulas na escuridão
E por fim
Adormeceu comigo sobre a pétala duma rosa vermelha

Ó pombos sem destino
Árvores inexperientes ingénuas, ó janelas cegas,
Debaixo do meu coração e no fundo das minhas costas, agora
Cresce uma rosa vermelha
Vermelha
Como uma bandeira
Na ascensão

Ah, estou grávida, grávida, grávida

Forugh Farrokhzad (Irão)
Tradução de Mohsen Rostami.

encontrado in insónia- http://antologiadoesquecimento.blogspot.com

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