31/01/11

PORQUE


http://www.youtube.com/watch?v=IT_31oLD8eg

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam e tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos são sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen

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30/01/11

OS MEUS POETAS - 206

arte
img.Georges Braque

ENTRAPERÇUE

Je sème de mes mains.
Je plante avec mes reins;
Muette est la pluie fine.

Dans un sentier étroit
J'écris ma confidence.
N'est pas minuit qui veut.

L'écho est mon voisin,
La brume est ma suivante.


autoresRené Char, Chants de la Balandrane, 1977





DE RELANCE

Semeio com minhas mãos,
Planto com os meus rins;

É muda a chuva fina.

Numa senda estreita,
Escrevo o meu segredo.

Não é meia noite quem quer
O eco é meu vizinho,
A bruma, a minha sequência.

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29/01/11

OMNIA VINCIT AMOR - 156


amor

L'érotisme réside dans la possibilité d'un geste.
Il appartient au domaine du rêve.

Jean-François Somain

O erotismo consiste na possibilidade de um gesto.
Pertence ao domínio do sonho.

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28/01/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 92

flores-rosa


Te dehojé, como una rosa,
para verte tu alma,
y no la vi.

Mas todo en torno -
horizontes de tierras y de mares-,
todo, hasta el infinito,
se colmó de una esencia
inmensa y viva.

Juan Ramon Jimenez
recolhido em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

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27/01/11

REVIVALISMOS - 25

quem ainda se lembra?

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Do amado de deus que faria hoje anos



Mozart no Céu

NO DIA 5 de dezembro de 1791 Wolfgang Amadeus
Mozart entrou no céu, como um artista
de circo, fazendo piruetas extraordinárias
sobre um mirabolante cavalo branco.

Os anjinhos atônitos diziam:
Que foi? Que não foi?
Melodias jamais ouvidas voavam nas linhas suplementares
............................................... [superiores da pauta.
Um momento se suspendeu a contemplação inefável.

A Virgem beijou-o na testa
E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi
.....................................................[o mais moço dos anjos.

Manuel Bandeira in Lira dos Cinquent'anos

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ET...VOILÀ !



Há muito que ultrapassámos esta velocidade...- já 240 000 passaram por aqui... e , com seis aninhos já feitos,o carrinho de bebé já não faz parte das nossas vidas..- os poemas,esses, SIM.

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DO FALAR POESIA - 124


autores

[Reflexão sobre a poesia]
A poesia, cujo material é a linguagem, é talvez a mais humana e a menos mundana das artes, aquela cujo produto final permanece mais próximo do pensamento que o inspirou. A durabilidade de um poema resulta da condensação, de modo que é como se a linguagem falada com extrema densidade fosse poética por si mesma . Na poesia , a recordação Mnêmosynê, mãe de todas as musas, é directamente transformada em memória; o poeta consegue´essa transformação através do ritmo com o qual o poema se fixa na memória quase por si mesmo. È esta intimidade viva que permite que o poema perdure, retenha a sua durabilidade fora da página escrita ou impressa; e, embora a «qualidade» de um poema seja medida por vários padrões diferentes, a sua «memorabilidade» determinará inevitavelmente a sua durabilidade,isto é, a possibilidade de ficar pemanentemente fixado na lembrança da humanidade . De todas as coisas do pensamento, a poesia é a que mais se assemelha a este último ; e, entre todas as obras de arte a que menos se assemelha a uma coisa é um poema. No entanto, até mesmo um poema, não importa quanto tempo tenha existido como palavra viva e falada na memória do bardo e dos que a escutaram, terá , mais cedo ou mais tarde, de ser »feito», isto é , escrito e transformado em coisa tangível para habitar entre coisas, pois a memória e o dom de lembrar, dos quais provém todo o desejo de imperecibilidade, necessitam de coisas que os façam recordar, para que eles próprios não venham a perecer.

Hannah Arendt -A condição Humana
-encontrado em http://vaandando.blogspot.com/

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26/01/11

OS MEUS POETAS - 205

25/01/11

AFRONTAMENTO - 45

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Venerar-te eu? Por que?
Já suavizaste as dores
do oprimido?
Já enxugaste as lágrimas do angustiado?
Acaso quem me fez homem
não foi o tempo todo-poderoso
e o destino eterno,
meus senhores e teus?

Goethe-excerto de Prometeu
-recolhido em acontecimentos - http://antoniocicero.blogspot.com/

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24/01/11

UMA CANÇÃO DE BRASSENS


(paroles et musique de Brassens)

Le petit joueur de flûteau /Menait la musique au château/Pour la grâce de ses chansons/Le roi lui offrit un blason/Je ne veux pas être noble/Répondit le croque-note/Avec un blason à la clé/Mon la se mettrait à gonfler/On dirait par tout le pays/Le joueur de flûte a trahi//

Et mon pauvre petit clocher/Me semblerait trop bas perché/Je ne plierais plus les genoux/Devant le bon Dieu de chez nousI/l faudrait à ma grande âme/Tous les saints de Notre-Dame/Avec un évêque à la clé/Mon la se mettrait à gonfler/On dirait par tout le pays/Le joueur de flûte a trahi//

Et la chambre où j'ai vu la jour/Me serait un triste séjour/Je quitterai mon lit mesquin/Pour une couche à baldaquin/Je changerais ma chaumière/Pour une gentilhommière/Avec un manoir à la clé/Mon la se mettrait à gonfler/On dirait par tout le pays/Le joueur de flûte a trahi//

Je serai honteux de mon sang/Des aïeux de qui je descends/On me verrait bouder dessus/La branche dont je suis issu/Je voudrais un magnifique/Arbre généalogique/Avec du sang bleu a la clé/Mon la se mettrait à gonfler/On dirait par tout le pays/Le joueur de flûte a trahi//

Je ne voudrais plus épouserMa promise, ma fiancée/Je ne donnerais pas mon nom/A une quelconque Ninon/Il me faudrait pour compagne/La fille d'un grand d'Espagne/Avec un' princesse à la clé/Mon la se mettrait à gonfler/On dirait par tout le pays/Le joueur de flûte a trahi//

Le petit joueur de flûteau/Fit la révérence au château/Sans armoiries, sans parchemin/Sans gloire il se mit en chemin/Vers son clocher, sa chaumine/Ses parents et sa promise/Nul ne dise dans le pays/Le joueur de flûte a trahi/Et Dieu reconnaisse pour sien/Le brave petit musicien//

h
ttp://www.youtube.com/watch?v=eqlowkjtp18

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23/01/11

OS MEUS POETAS - 204

(fazer zoom para ver melhor)


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22/01/11

José Afonso - Epígrafe Para a Arte de Furtar



Epígrafe para a arte de furtar

Roubam-me Deus
Outros o Diabo
Quem cantarei?

Roubam-me a Pátria
E a humanidade
Outros m'a roubam
Quem cantarei?

Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam
Quem cantarei?

Roubam-me a voz
Quando me calo
Ou o silêncio
Mesmo se falo-
Aqui del- rei!

Jorge de Sena

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DO FALAR POESIA - 123

poesia

As Damas Negras em Noite de Núpcias


talvez um poema seja
simples sobra de palavras
impronunciadas por pessoas
na inútil Babel da fala
mas impressas como em tábuas
da sarça do Verbo em chamas
nessa partida de Damas
Negras em Noite de Núpcias
que num lance de dados e de dedos
o acaso não abolirá

Alberico Carneiro

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21/01/11

LEITURAS - 158



autores

[O dia em que Nietzsche chorou]


Nunca se poderá determinar com certeza total em que medida nosso relacionamento com o outro é o resultado de nossos sentimentos, de nosso amor, de nosso não-amor, de nossa complacência, ou de nosso ódio, e em que medida ele é determinado de saída pelas relações de força entre os indivíduos. A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda a sua pureza, com toda a sua liberdade, em relação àqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa ao nosso olhar) são as relações com aquele que estão a nossa mercê: os animais. É aí que se produz o maior desvio do homem, derrota fundamental da qual decorrem todas as outras.[…]

Ao mesmo tempo, surge para mim uma outra imagem: Nietzsche está saindo de um hotel em Turim. Vê diante de si um cavalo, e um cocheiro espancando-o com o chicote. Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços. Isso aconteceu em 1889, e Nietzsche já estava também distanciado dos homens. Em outras palavras: foi precisamente nesse momento que se declarou sua doença mental. Sua loucura (portanto seu divórcio da humanidade) começa no instante em que chora sobre o cavalo. É este Nietzsche que amo.

autoresMilan Kundera

em A Insustentável Leveza do Ser

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20/01/11

DE AMICITIA -103



(canção composta por Zelia Duncan (música e letra)


Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem
e o que nem tem quando não tem,
finge que tem, faz o que pode e o seu coração reparte que nem


-http://www.youtube.com/watch?v=3v73ecjopiQ&feature=related

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19/01/11

NOCTURNOS - 93

lua cheia

Partitura com Lua

Notação de pássaros
nos fios da rua:
mínimas semínimas pausas.
Sobre o piano rosas estremecem.
Cadências de alma sobressaltam um público
desatento e ao relento ressoam
algumas dissonâncias (tropel de potros
presos numa sala). Mas por acaso em pura sintonia
pássaros refazem a partitura
no heptacorde dos fios da rua.
Ei-la tão plena no dia findo azulado -
a lua soberana e alta
do sono deste outono.

Dora Ferreira da Silva

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18/01/11

ESCREVER - 92

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Conselhos para escritores

Mesmo que te mantenha a pé toda a noite,
lava as paredes e esfrega o chão
do teu estúdio antes de compores uma sílaba.

Limpa como se o Papa estivesse para vir.
O asseio imaculado é sobrinho da inspiração.

Quanto mais limpares, mais brilhante
será a tua escrita; não hesites, pois em sair
a campo aberto e lavar a face oculta
das pedras, nem de passar um trapo nos ramos mais altos
das florestas sombrias, pelos ninhos cheios de ovos.

Quando encontrares o caminho de volta para casa
e guardares as esponjas e escovas debaixo do lava-loiça,
contemplarás a luz da aurora,
o altar imaculado da tua secretária
uma superfície limpa no centro de um mundo limpo.

Então, de um pequeno copo, azul reluzente, tira
um lápis amarelo, o mais afiado do bouquet,
e cobre páginas com frases miúdas
como longas filas de formigas devotas,
que te seguiram desde o bosque.

Billy Collins
Tradução de José Luís Peixoto

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17/01/11

DANCEMOS, POIS...


http://www.youtube.com/watch?v=D1ZYhVpdXbQ

Para um bom começo de semana - esperando que se dance, sim, mas, de preferência, não à chuva...e daí, quem sabe?

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16/01/11

OS MEUS POETAS - 203

autores


A LUA DE OLHOS AZUIS


De noite, o cabelo das mulheres não se distingue
dos ramos dos salgueiros. Eu caminhava pela berma do ribeiro.
De repente, ouvi cantar. Só então me apercebi da presença
das raparigas.

Perguntei-lhes: «Que canção é essa?».
Responderam-me: «Dos que regressam».
Uma esperava o pai, outra o irmã,
mas a que esperava o noivo era a que mais esperava.

Para eles haviam entrançado coroas e grinaldas,
cortado palmas às palmeiras e apanhado flores de lótus

............................................................[ nas águas.
Abraçadas pelos ombros, cantavam, à vez,
a canção dos que voltam.

Continuei, sozinha, o meu caminho pela margem.
Sentia-m triste mas, ao olhar em volta ,reparei
que,por detrás das altas árvores, a lua se erguia
para, com seus olhos azuis, me guiar os passos.

Pierre Louys - O Sexo de Ler de Bilitis

ed.Relógio d'Água,2010
trad.de Maria Gabriela Llansol

Para saber mais sobre Pierre Louys
http://pt.encydia.com/es/As_can%c3%a7%c3%b5es_de_Bilitis

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15/01/11

graffito


não é mesmo?

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14/01/11

E PORQUE É O NOSSO ANIVERSÁRIO...



Le vent dans tes cheveux blonds/Le soleil à l'horizon/Quelques mots d'une chanson/Que c'est beau, c'est beau la vie/Un oiseau qui fait la roue/Sur un arbre déjà roux/Et son cri par-dessus tout/Que c'est beau, c'est beau la vie/Tout ce qui tremble et palpite/Tout ce qui lutte et se bat/Tout ce que j'ai cru trop vite/A jamais perdu pour moi/Pouvoir encore regarder/Pouvoir encore écouter/Et surtout pouvoir chanter/Que c'est beau, c'est beau la vie/Le jazz ouvert dans la nuit/Sa trompette qui nous suit/Dans une rue de Paris/Que c'est beau, c'est beau la vie/La rouge fleur éclatée/D'un néon qui fait trembler/Nos deux ombres étonnées/Que c'est beau, c'est beau la vie/Tout ce que j'ai failli perdre/Tout ce qui m'est redonné/Aujourd'hui me monte aux lèvres/En cette fin de journée/Pouvoir encore partager/Ma jeunesse, mes idées/Avec l'amour retrouvé/Que c'est beau, c'est beau la vie/Pouvoir encore te parler/Pouvoir encore t'embrasser/Te le dire et le chanter/Oui c'est beau, c'est beau la vie

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HOJE É DIA DE FESTA ...


barcodeflores


O barco continua...e sempre carregadinho de flores e de amigos

Reponho, para comemorar o nosso aniversário, o poema que deu o nome ao nosso barco (o 2ºtexto a ser colocado):

Ao longe os barcos de flores

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
– Perdida voz que de entre as mais se exila,
– Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Camilo Pessanha
-1ºcolocação em 15.01.2005

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13/01/11

DE AMICITIA - 103

Poema
Eu adorava o meu amigo.
Ele partiu e deixou-me.
Não há mais nada a dizer.
O poema termina,
Suave como começou
- Eu adorava o meu amigo.



Langston - Hughes

Versão Luís Parrado
In http://arspoetica-lp.blogspot.com

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12/01/11

PENSAR -121

natureza


[a pátria não é a terra...]


A Pátria não é a terra; não é o bosque, o rio, o vale, a montanha, a árvore, a bonina: são - no os afectos que esses objectos nos recordam na história da vida...

Alexandre Herculano
encontrado em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

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11/01/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 91

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"Não colhas essas rosas.
As rosas,
Irmãs na terra das estrêlas,
São mais lindas nos olhos que na mão.

Contenta-te em vê-las.
Deixa-as na haste,
Côr de púrpura e ouro.Se as colheres, as rosas morrerão."

Não quis ouvir o teu agouro.
Colhi tôdas as rosas que nasceram
Nos caminhos por onde me levaste
E as rosas não morreram....

Álvaro Moreyra, Lenda das Rosas

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10/01/11

LEITURAS -157


autores

«Esta trapaça salutar, esta esquivança, este logro magnífico que permite conhecer a língua no exterior do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, é aquilo a que eu chamo literatura.»

Roland Barthes - Lição
cit. por almira soares no seu local no Facebook

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09/01/11

OS MEUS POETAS - 202

08/01/11

LEITURAS - 156

autores

A neve escorria de um canto da estação, perdia-se assobiando entre as rodas do comboio, grudava-se em todas as coisas, postes e pessoas, ameaçando ocultá-las. Após uma segunda calmaria, retornou com uma fúria que parecia irresistível. A grande porta da estação abria-se e fechava-se incessantemente, dando passagem às pessoas que corriam, aqui e ali, ou se entretinham alegremente ao longo da plataforma de tábuas que rangiam sob os seus pés. Uma sombra de homem, curvado, ao pé de Ana, pareceu sair debaixo da terra. Ela percebeu o barulho de um martelo batendo o ferro e depois, no lado oposto, o som de uma voz encolerizada subindo nas trevas. "Telegrafem!" - dizia a voz, e outras a acompanharam. "Por aqui, faz favor! Número 28!" Ana viu passar correndo em sua frente as silhuetas, seguidas por senhores que fumavam tranquilamente. Respirou ainda uma vez a plenos pulmões e, a mão já fora do regalo, preparava-se para subir novamente ao vagão, quando um homem fardado surgiu a dois passos, interceptando a luz vacilante do candeeiro. Examinou-o e reconheceu Vronski. Cumprimentou-a com uma continência militar, inclinou-se e lhe ofereceu os seus préstimos. Fitou-o alguns momentos, sem dizer nada. Apesar dele se encontrar na sombra, julgou perceber-lhe nos olhos e nos traços fisionómicos uma outra expressão de entusiasmo que não aquela que na véspera tanto a emocionara. Vinha ainda de se confessar, após o ter repetido muitas e muitas vezes durante todos aqueles dias, que Vronski era um rapaz como já encontrara centenas de outros, no qual não devia pensar: e eis que, desde o primeiro encontro, uma orgulhosa alegria a dominava! Ana julgou inútil perguntar-lhe o que fazia ali - ali estava, evidentemente, para vê-la. Isso, ela o sabia com tanta certeza como se ele mesmo o houvesse dito. - Não sabia que ias a Petersburgo, que vais fazer? - perguntou, deixando cair a mão que estava apoiada no corrimão do estribo. O seu rosto brilhou de indizível alegria. - O que vou fazer? - repetiu, mergulhando o olhar no de Ana. Bem sabes que vou para estar junto a ti, não podia fazer de outro modo. O vento, neste momento, como se tivesse vencido todos os obstáculos, fez cair a neve do tecto do vagão, e agitou com triunfo uma folha de zinco que havia despregado. O apito da locomotiva produziu um ruído lúgubre. Ana ainda apreciava a trágica beleza da tempestade. Vinha de ouvir as palavras que a razão temia, mas que o coração cobiçava. Guardou silêncio, mas Vronski leu no seu rosto a luta que no íntimo se travava. - Perdoa-me se o que disse te desagrada - continuou humildemente, mas com tão marcada obstinação, que ela levou alguns instantes sem poder responder. - Não devias me dizer isso - disse ela afinal - e, se és cavalheiro, esquece tudo como eu também já esqueci. - Não esquecerei, eu não posso esquecer nenhum dos teus gestos, nenhuma das tuas palavras.

Leão de Tolstoi - em Ana Karenina

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07/01/11

O PRAZER DE LER - 119

SABEDORIA

formatado e publicado por carmen cynira no seu blogue http://petalasdealcachofra.blogspot.com/

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06/01/11

OS MEUS POETAS - 201

arte
Paul Cézanne

Em litorais longínquos
as mulheres deitam-se sobre a areia
junto à rebentação das ondas.
Com os braços em cruz
afastam as embarcações costeiras
e aguardam que a lua inteira
inicie um inesperado bailado
perto de suas bocas.
E não há âncora nem cais
que emudeça o júbilo dos mastros.

Graça Pires - em O silêncio: lugar habitado, 2009

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05/01/11

Good morning, star shine

04/01/11

PÉROLAS - 209

uma linda rosa


Somente a Rosa
é suficientemente frágil
para exprimir
a Eternidade
Paul Claudel
encontrado em http://aldinaduarte.blogspot.com/

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03/01/11

DO FALAR POESIA - 122

foto de ana assunção
foto de ana assunção

«E nunca o tormento acha um céu, e nunca o desejo acha uma terra.
É por isso que a poesia existe."

Birger Sjöberg (1885/1929)

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02/01/11

NOCTURNOS - 92

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Noite poema


hostil o sonho reverbera nos sentidos
às cegas
- são as mãos sem uma estrela
nos olhos
o tempo sem destino
- esta palavra...

Lilia Silvestre Chaves

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01/01/11

FELIZ ANO NOVO!


http://www.youtube.com/watch?v=CCgaeJfzQrg


Para todos os meus desejos de que o Ano Novo seja verdadeiramente NOVO !

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