30/09/11

DO FALAR POESIA - 135

natureza


Quando um poeta lhe parecer obscuro, procure bem, e não procure longe. Não há de obscuro aqui senão o maravilhoso encontro do corpo e da ideia, que opera a ressurreição da linguagem.

Alain . Propos de littérature
 Paris: Gonthier, 1964.

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29/09/11

ARTE - 23


Georges Braque

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PENSAR - 130

autores
Não existe nenhum passeio fácil para a liberdade em lado nenhum, e muitos de nós teremos que atravessar o vale da sombra da morte vezes sem conta até que consigamos atingir o cume da montanha dos nossos desejos.

Nelson Mandela 
encontrado em  citador

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28/09/11

Cesária Évora, Petit Pays



http://www.youtube.com/watch?v=LbN8bk9ljQw&feature=player_embedded#!
Desejamos a esta «diva dos pés descalços» um pronto restabelecimento.

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27/09/11

POETAS MEUS AMIGOS -155

 ler



Factos e poesia

Uma coisa são factos, outra a poesia.
Assim Thoreau tentou pôr no mundo ordenação.
Mas quê? Descobriu afinal que nos factos havia,
quanto mais interessantes e mais belos, mas a tradução
da terra ao céu que os porta,
e toda a sua poesia num livro único cabe,
indiscerníveis os factos da beleza.
Seu crivo.
Suscitado por uma leitura de Henry David Thoreau

Aurélio Porto , in Safra do Regresso
Ed.sempre em pé , 2011- www.sempreempe.pt


Nota: O Autor, que publicara antes Flor de um dia, inseriu a seguinte epígrafe:


OTIMISMO
Tenho um leitor /emTessalónica,/e outro em Bad Nauheim./Com isso já faz dois. 
(Günther Eich, in Lange Gedicht)


É minha convicção que vai ter mais que dois...porque o livro o merece.Por isso, o recomendo.

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PÉROLAS - 232

natureza


Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.


Fiama Hasse Pais Brandão

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26/09/11

OS MEUS POETAS - 220


natureza

Poema de Outono

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

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25/09/11

LEITURAS - 173

marinhas

 [Sou uma ilha pequena]

«Às vezes não te compreendo bem.»
«Sou uma ilha pequena, Paula.» Sim, uma ilha pequena, sem arquipélago, e à volta o oceano desconhecido e um nevoeiro tão denso que não deixava ver os barcos, se os havia. Mas era natural que os houvesse. Há sempre barcos em volta das ilhas. Estivera um dia numa ilha assim…
A voz de Paula ria na sua sala, no seu divã. «Todos o somos, não és original.»«Mas eu sou aquela ilha.»Pequena e com praias de cascalho, não muito belas, e voltadas para oriente. O sol abandonava-as a meio da tarde e então fazia frio e a água ainda há pouco morna e confortável tornava-se gélida, matéria opaca, cheia de vida, de morte e de mistérios. Só havia uma coisa a fazer, subir, subir à procura de um resto de sol. Mas do lado ocidental era o reino das gaivotas e dos rochedos a pique. Coisas só para olhar. Ruídos que eram silêncio. E acabava sempre por regressar à tenda onde estava acampada com uns amigos. Cansada. Farta. A querer ir-se embora e sem partir.«Mas a tua vida é que é uma ilha, não tu.»«Sim, a minha vida», concordou Jô. «Mas o que sou eu sem a minha vida, o que somos nós sem ela?»«Bem, é tarde, vou deitar-me», disse Paula. «E o teu caso, na mesma?» 

Maria Judite de Carvalho 

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24/09/11

DA EDUCAÇÃO - 70



educação

A minha proposta reduz-se a isto
nem mais um aluno para os liceus
o verdadeiro ensino está na vida
da pé e pica aos moinhos de vento

que sensaboria a História Antiga
com os seus heróis e os seus reis
tanto estudante a fingir que estuda
e faltam braços para o pastoreio

as artes nobres: varrer sachar empar
e outras: bordar coser fazer renda
não tenho nada contra a poesia
mas é mais útil a limpeza a seco

fernando assis pacheco

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23/09/11

PORQUE É OUTONO



OUTONAIS


Repara que o Outono é mais estação da alma do que da natureza.

(Nietzsche)




http://www.youtube.com/watch?v=pnxeKl-Kbqw&feature=player_embedded

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DESASSOSSEGOS - 124


liberdade

Vou finalmente fechar o postigo, expirar a entrada mais feliz
do meu coração. É altura, José, de deixar as flores secarem,
o poço ganhar a escuridão que vem ameaçando há anos.

Soltarei de vez os canários e os pardais que prendi
naquela gaiola, junto ao coberto. Da mesma forma
que o farei contigo – segue o teu caminho e deixa que

este pobre velho que a vida baralhou encerre os seus pulmões
e procure noutra casa entradas maiores para o maior coração.


jorge reis-sá

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22/09/11

ARTE - 22

21/09/11

POETAS MEUS AMIGOS -154



«Seiscentos e cinquenta anos passados,tudo pode mudar-se, se pensarmos que Inês, mais do que Pedro, foi filtrada por tanta gente,tantos corações e tão ocultamente que o mito abre fissuras nas estátuas do mosteiro, Inês  sempre doada e Pedro, que foi príncipe e rei,com gestos obscuros que somente o cronista testemunha em datas e entrelinhas, cauteloso.»[da orelha do livro]
POEMA DE ABERTURA


Posso ver, inclinados sobre Inês,
os vultos que na noite de outro tempo
escreviam com forma e tom diversos,
porque deste futuro não sabiam
o modo e sua cor, nem o ruído
de máquinas velozes a marcar
a urgência da denúncia que me bate
nas têmporas, aviso para a luz
nascente das palavras irreais
do palimpsesto, em cujo pergaminho
os vultos escreviam sem ter dúvidas,
pois nada se mudava nos seus anos.


O livro - uma nova releitura do mito («.A esposa que lavraste em pedra e rito/nunca a tiveste,infante. E o mais é mito...Ivan Junqueira, em A Rainha Arcaica)  - merece uma boa leitura e,por isso, o recomendo vivamente.

Previne o Autor no seu blogue a esquerda da vírgula - http://esquerda-da-virgula.blogspot.com/
(...). Não se deixem levar pelo Dolce Stil Nuovo do título. A sua função não é anunciar amores ideais.O poema de abertura levanta um pouco o véu (...) 

 - publicado por edições sempre em pé,Porto, 2011- www.sempreempe.pt

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CAMONIANAS - 69


retratos
.......................................................................[[Aquela cativa
.................................................................  que me tem cativo...
  
Nova bárbara escrava


Barborinha uma crioula:
Faz de bahiana evocada
Num hotel de vidro e avenca;
Usa torço cor-de-rosa,
Pano-da-costa fingido,
Chambre crivado no seio:
Seu balangandã preserva-a
Bem menos que seu enleio.
Para não ver os meus olhos
– Figa branca, figa preta
- Atira-as pra trás nas costas,
Tão bem, que só vê diante
A cuia do vatapá:
Mas eu sei quantas pancadas,
Vindo assim, seu peito dá.
Peixinho moreno, pula
No aquário do hotel de luxo
Como gota de água ao céu:
Tem vergonha de ser mate,
O seu passo é como um véu.
Barborinha é uma crioula
(Mulatinha era demais):
As cores, à parte, são várias:
Unidinhas, são iguais.
Vem servir-me cor-de-rosa,
Parda me serve xinxim
(Pérfido, atraso o jantar
Fitando-a entro e mim).
Mas o que serve em verdade
A Barborinha
morena,

Na sua saia bahiana 

Com roda de campainha,
Não é o envisco que comem
Os peixes do hotel de vidro,
Mas a sua graça apenas.
Tão quente (sendo ela fria)!
E as mãos! as mãos! – tão pequenas,
Tão pequenas, que eu diria
Que as fazem penas – e fogem
As aves que há na Bahia!



vitorino nemésio

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20/09/11

ANO VIEIRINO -19


[Da actualidade do Padre António Vieira]:


" (...) O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república são os seus imoderados tributos. Se queremos que sejam leves, se queremos que sejam suaves, repartam-se por todos"
(do "Sermão de Santo António", pregado em 1642)

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19/09/11

DO FALAR POESIA - 134


poesia

O poema é solitário.É solitário e vai a caminho.
Quem o escreve torna-se parte integrante dele.

Paul Celan

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18/09/11



NO TE SALVES


No te quedes inmóvil al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca.

No te salves
no te llenes de calma
no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer lo párpados
pesados como juicios
no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo.

Pero si
ese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el jubilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino
y te salvas
entonces
no te quedes conmigo

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17/09/11

LEITURAS - 172

navegante


Navegante


O grande mistério não é termos sido lançados aqui ao acaso, entre a profusão da matéria e das estrelas; é que, da nossa própria prisão, conseguimos extrair, de dentro de nós mesmos, imagens suficientemente poderosas para negar a nossa insignificância.

André Malraux


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16/09/11

NOCTURNOS - 102

animais;aves

Sete Luas

Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas
Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.

Natália Correia

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15/09/11

Maria Papoila - a canção


http://www.youtube.com/watch?v=GcXxFI4CUKg&feature=email
A canção data de 1937 e integra o filme Maria Papoila,real.por Leitão de Barros

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14/09/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 98

flores;rosas

ÂNGELUS
    Vê, Platero, quantas rosas caem por todos os lados: rosas azuis, cor-de-rosa, brancas, sem cor...Parece que o céu está se desfazendo em rosas. Vê como se enchem de rosas minha testa, meus ombros, minhas mãos...O que farei com tantas rosas?      Acaso sabes de onde é essa flora delicada, que não sei onde é, que enternece a cada dia a paisagem e a deixa suavemente rosada, branca e azul-celeste – mais rosas, mais rosas – como um quadro de Fra Angélico, aquele que pintava a glória de joelhos?      E ´como se das sete galerias do  Paraíso lançassem rosas à terra. Como neve suave e vagamente colorida, as rosas ficam na torre, no telhado, nas árvores. Vê: tudo o que é forte se abranda com seu adorno. Mais rosas, mais rosas, mais rosas...  Parece, Platero, enquanto soa o Ângelus, que nossa vida perde a força cotidiana e que outra força, de dentro, mais altiva, mais constante e mais pura faz, como em jorro de graça, tudo subir às estrelas que já se acendem entre as rosas...Mais rosas...Teus olhos, que não vês, Platero, e que ergues mansamente para o céu, são duas belas rosas.  

 Juan Ramón Jiménez em Platero e Eu – Tradução de Javier Zabala

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13/09/11

LER OS CLÁSSICOS - 150


arte

Perto da minha dama e longe do meu querer,
tão cheio de desejo e medo ao mesmo tempo,
o coração me falha e nas palavras tremo
quanto a poder dizer o que quero dizer.

«Bela», disse eu, « de dor fazeis-me estremecer,
 e nem sei o que digo, e nem sei o que penso,
 perto da minha dama e longe do meu querer.

De todas as demais nem desejo saber,
numa só coloquei todo o bem a um tempo,
Libertar-me ousarei do terror em que tremo
para pedir enfim que me façais valer
perto da minha dama e longe do meu querer?»


(Alain Chartier. 1385-1433)

'roubado' a  aguarelas de turner- http://aguarelast.blogspot.com/

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12/09/11

ARTE - 21

11/09/11

POETAS MEUS AMIGOS - 153



No bico de outras penas

Sem poema. Só pena
e papel. Tão grande a pena,
Tão triste o papel!

Feliz é o beija-flor
que faz poesia sem palavras.

              Antônio Adriano de Medeiros
               março de  2011

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10/09/11

DESASSOSSEGOS - 123


O fatal

Por este áspero atalho
- oh! negro poço – aonde iremos,
de que estrela viemos?
A Arca que nos trouxe
deixou cair seus remos,
ainda nem chegamos, já fugimos.

 Arturo Corcuera

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09/09/11

DE AMICITIA -113


  
[DOS AMIGOS]

(....)
" E tu, e tu e tu, ó tantos amigos, tanta moça amada, tantos velhos cavadores que me ensinaram, sobre poiais frescos das velhas casas, os ângulos da pedra filosofal...Quinze anos. Quinze anos. Quinze anos. A vida toda despida à minha frente em arremessos de amor, chão, ternura e amizade: - Foi aos quinze anos que descobri que um homem sozinho não vale nada."

Eduardo Olímpio (excerto do texto Quinze anos)

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08/09/11

O PRAZER DE LER -125


ler

[acontece na literatura como na vida]

"E Schopenhauer também parecia ter visitado essa província mundana e néscia quando dizia que acontece na literatura como na vida: para qualquer lado que nos voltemos, chocamos logo com a incorrigível vulgaridade da humanidade, que está em legiões em todo o lado, enchendo tudo, e sujando tudo, como as moscas no Verão, e daí a quantidade de livros maus, aquilo a que ele chamava a erva daninha."
Enrique Vila-Matas-em O Mal de Montano
Publicado em http://welcometoelsinore.blogspot.com

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07/09/11

ARTE - 20

Goya - o cão

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LEITURAS - 171


autores


Enterrei hoje minha mulher - porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira. Levá-Ia para o cemitério, e como? Fica longe. Ela pedira-mo uma vez, inesperadamente, acordando-me a meio da noite. Queria que a enterrasse junto ao muro que dá para o caminho, porque se vê daí a casa dela. Habituara-se a olhar para aquele sítio depois que ficou só. E pensava: «Verei dali a janela do meu quarto.» Mas teria de transportá-Ia para lá. Não tenho forças e cai neve. A quantos estamos? É Inverno, Dezembro, talvez, ou Janeiro. Tiro a neve com uma pá, traço o rectàngulo e cavo. Dois cães assomam à porta do quintal, chupados de ódio e de fome. Ainda há cães pela aldeia? Babam-se e uivam sinistramente. Tomo uma pedra. disparo-a contra um, desaparecem ambos a ganir. E de novo o silêncio cresce a toda a volta, desde a montanha que fico a olhar até me doerem os olhos. Olho-a sempre, interrogo-a. Quando estou cansado de cavar, enxugo o suor e olho:.a ainda. Um diálogo ficou suspenso entre nós ambos, desde quando? - desde a infância talvez, ou talvez desde mais longe. Um diálogo interrompido com tudo o que aconteceu e que é necessário liquidar, saldar de uma vez. Estou só, horrorosamente só, ó Deus, e como sofro. Toda a solidão do mundo entrou dentro de mim. E no entanto, este orgulho triste, inchando - sou o Homem! Do desastre universal, ergo-me enorme e tremendo. Eu. Dois picos solitários levantam-se-me adiante, lá longe, trémulos no silêncio. 
Entre eles e a aldeia há um vazio escavado na montanha. donde sobem as sombras e a neblina. Pela manhã a névoa infiltra-se pelos desfiladeiros,[...]

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

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06/09/11

OMNIA VINCIT AMOR - 166

arte;retratos
img-Csaba markus  


Vem quando o vento acorda os meus cabelos,
Como em folhagem que, ávida, respira…

Vem como a sombra, quando a estrada é nua,
Nem risco de asa, vem, serenamente!

Como as estrelas, quando não há Lua
Ou como os peixes, quando não há gente…

Pedro Homem de Mello

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05/09/11

ESCREVER - 101


escrever


Dizer o mesmo com palavras diferentes, sempre o mesmo. Dizer sempre com as mesmas palavras uma coisa completamente diferente ou a mesma de modo diferente. Não dizer muitas coisas, ou dizer muito com palavras que nada dizem. Ou então calar de modo eloquente.

Hans Magnus Enzenberger, Opções para um poeta

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04/09/11

DO FALAR POESIA - 133



Ce sont de drôles de types qui vivent de leur plume /Ou qui ne vivent pas c'est selon la saison/Ce sont de drôles de types qui traversent la brume/ Avec des pas d'oiseaux sous l'aile des chansons//Leur âme est en carafe sous les ponts de la Seine / Les sous dans les bouquins qu'ils n'ont jamais vendus / Leur femme est quelque part au bout d'une rengaine / Qui nous parle d'amour et de fruit défendu//Ils mettent des couleurs sur le gris des pavés / Quand ils marchent dessus ils se croient sur la me r/  Ils mettent des rubans autour de l'alphabet / Et sortent dans la rue leurs mots pour prendre l'air//Ils ont des chiens parfois compagnons de misère / Et qui lèchent leurs mains de plume et d'amitié / Avec dans le museau la fidèle lumière /Qui les conduit vers les pays d'absurdité//Ce sont des drôles de types qui regardent les fleurs / Et qui voient dans leurs plis des sourires de femme/ Ce sont de drôles de types qui chantent le malheur / Sur les pianos du cœur et les violons de l'âme // Leurs bras tout déplumés se souviennent des ailes/ Que la littérature accrochera plus tard/ A leur spectre gelé au-dessus des poubelles / Où remourront leurs vers comme un effet de l'Art//Ils marchent dans l'azur la tête dans les villes / Et savent s'arrêter pour bénir les chevaux / Ils marchent dans l'horreur la tête dans des îles / Où n'abordent jamais les âmes des bourreaux//Ils ont des paradis que l'on dit d'artifice / Et l'on met en prison leurs quatrains de dix sous / Comme si l'on mettait aux fers un édifice / Sous prétexte que les bourgeois sont dans l'égout ///

Canção de Léo Ferré
- que pode ouvir, pelo próprio, em  http://www.youtube.com/watch?v=SCFJgYVSN9o

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03/09/11

INESIANAS - 21



PEDRO LEMBRANDO INÊS

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu , que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te pedia
dizer: « Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor;
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice

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02/09/11

DO FALAR POESIA - 132

NATUREZA



Uma grande tentação se oferece ao homem, a de exercer a sua capacidade mais superlativa e radical: criar. Eis porque não se trata de ver o poema. Paul Éluard dizia justamente que o poema consiste em dar a ver, em mostrar o mundo, em mostrar o que a quotidianidade nos dissimula e nos esconde a inanidade da vida. Dar a ver a realidade substancial do homem, o que a nossa precariedade, a nossa incapacidade, os constrangimentos da existência, nos furtam e o que nos escapa por sermos inaptos para responder directamente à exigência absoluta. Direi mais: não basta dar a ver. Trata-se de dar a criar, de um incitamento a se re-criar.
António Cabrita, cit em http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/



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01/09/11

PÉROLAS - 231

Incompreensão


Fotografia: ©Edouard Boubat


E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos
por aqueles que não podiam escutar a música.
[Nietzsche]

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