30/09/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 87

No meu regresso a estas navegações:


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As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.


Sophia de Mello Breyner Andresen

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19/09/10

Amigos: deixo-vos esta maravilha, em breve período de ausência e de pausa no blogue.







Coral Infantil da Universidade de Lisboa, frente à catedral de Estrasburgo -uma beleza!

encontrada em http://umacasanotempo.blogspot.com

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18/09/10

APONTAMENTOS



autores

...Creio que o belo não é uma substância em si, mas apenas um desenho de sombras, um jogo de claro-escuro produzido pela justaposição de diversas substâncias. Tal como uma pedra fosforescente que emite brilho quando colocada na escuridão e ao ser exposta á luz do dia perde todo o fascínio de jóia preciosa, também o belo perde a sua existência se lhe suprimimos os efeitos da sombra.


Junichiro Tanizaki
-lido em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

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OS MEUS POETAS - 188

retratos

A confissão de um vagabundo

Nem todos sabem cantar,
Não é dado a todos ser maçã
Para cair aos pés dos outros.

Esta é a maior confissão
Que jamais fez um vagabundo.

Não é à toa que eu ando despenteado,
Cabeça como lâmpada de querosene sobre os ombros.
Me agrada iluminar na escuridão
O outono sem folhas de vossas almas,
Me agrada quando as pedras dos insultos
Voam sobre mim, granizo vomitado pelo vento.
Então, limito-me a apertar mais com as mãos
A bolha oscilante dos cabelos.

Como eu me lembro bem então
Do lago cheio de erva e do som rouco do amieiro,
E que nalgum lugar vivem meu pai e minha mãe,
Que pouco se importam com meus versos,
Que me amam como a um campo, como a um corpo,
Como à chuva que na primavera amolece o capim.
Eles, com seus forcados, viriam aferrar-vos
A cada injúria lançada contra mim.

Pobres, pobres camponeses,
Por certo estão velhos e feios,
E ainda temem a Deus e aos espíritos do pântano.
Ah, se pudessem compreender
Que o seu filho é, em toda a Rússia,
O melhor poeta!
Seus corações não temiam por ele
Quando molhava os pés nos charcos outonais?
Agora ele anda de cartola
E sapatos de verniz.

Mas sobrevive nele o antigo fogo
De aldeão travesso.
A cada vaca, no letreiro dos açougues,
Ele saúda à distância.
E quando cruza com um coche numa praça,
Lembrando o odor de esterco dos campos nativos,
Lhe dá vontade de suster o rabo dos cavalos
Como a cauda de um vestido de noiva.

Amo a terra.
Amo demais minha terra!
mbora a entristeça o mofo dos salgueiros,
Me agradam os focinhos sujos dos porcos
E, no silêncio das noites, a voz alta dos sapos.
Fico doente de ternura com as recordações da infância.
Sonho com a névoa e a humidade das tardes de abril,
Quando o nosso bordo se acocorava
Para aquecer os ossos no ocaso.
Ah, quantos ovos dos ninhos das gralhas,
Trepando nos seus galhos, não roubei!
Será ainda o mesmo, com a copa verde?
Sua casca será rija como antes?

E tu, meu caro
E fiel cachorro malhado?!
A velhice te fez cego e resmungão.
Cauda caída, vagueias no quintal,
Teu faro não distingue o estábulo da casa.
Como recordo as nossas travessuras,
Quando eu furtava o pão de minha mãe
E o mordíamos, um de cada vez,
Sem nojo um do outro.

Sou sempre o mesmo.
Meu coração é sempre o mesmo.
Como as centáureas no trigo, florem no rosto os olhos.
Estendendo as esteiras douradas de meus versos
Quero falar-vos com ternura.

Boa noite!
Boa noite a todos!
Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.

Luz azul, luz tão azul!
Com tanto azul, até morrer é zero.
Que importa que eu tenha o ar de um cínico
Que pendurou uma lanterna no traseiro!
Velho, bravo Pégaso exausto,
De que me serve o teu trote delicado?
Eu vim, um mestre rigoroso,
Para cantar e celebrar os ratos.
Minha cabeça, como agosto,
Verte o vinho espumante dos cabelos.

Eu quero ser a vela amarela
Rumo ao país para o qual navegamos.

Sergei Iessiênin
trad. de Augusto de Campos

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17/09/10

APONTAMENTOS

arte
david hockney -splash

[Instante]

Visto que o passado morreu e o futuro é representado apenas pelo medo e pelo desejo - que é então este instante fugidio e não mensurável a que é impossível escapar?

Lawrence Durrel

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16/09/10

DO FALAR POESIA - 120

jogos gregos

Espírito Olímpico

Há palavras que nunca servem
e palavras que se adaptam ao que pretendemos.
Talvez haja alguma apropriada para morrer.

O poeta deve procurar a palavra certa?
Deixemo-nos de conversas.
Temos à disposição palavras limpas
e palavras com restos de terra e sujidade.
Qualquer palavra se pode confundir com outra.
Já não é possível confiar em palavras.

Transferem-mos, os versos? Mundo
e condição, os versos e a vida igual
de quem os escreve, com facturas
e pequenas glórias e desumanidades,
qualquer que seja o lado da muralha.

Às vezes ouvimos mal a palavra
que traz dentro um verso. Imperfeito?
Escrevemos o que não queremos,
repetimos erros, aprendemos,
quase tudo uma questão de sorte.
Quarenta dias. Apenas quarenta dias.


José Ricardo Nunes, Versos Olímpicos
In blogue do jornal de letras- http://bloguedeletras.blogspot.com/ -29-‘5.09

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15/09/10

A REGRA DO JOGO (1939)

Porque hoje, dia 15, seria o aniversário de Jean Renoir (1894 - 1979), a apresentação de um dos seus filmes mais conhecidos - La règle du jeu);dois anos antes havia realizado um outro, malquisto de franceses e alemães : La grande illusion.Estes entre tantos outros - há, naturalmente, outros vídeos no youtube

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DA EDUCAÇÃO - 62


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Ritos de excelência


É aqui que eu quero chegar. O que é importante é orientar a atenção de um aluno para aquilo que, de início, excede a sua compreensão, mas cuja estatura e fascínio irresistíveis o atraem. A simplificação, o nivelamento que dominam agora toda a educação, salvo a mais privilegiada, são criminosos. Descuram fatalmente capacidades que permanecerão ocultas. Os ataques ao chamado elitismo escamoteiam uma condescendência vulgar para com todos aqueles que julgamos a priori serem incapazes de fazer melhor. Tanto o pensamento (o conhecimento, Wissenschaft, a imaginação a que se dá forma) como o amor exigem demasiado de nós. Tornam-nos humildes. Mas a humilhação e até o desespero face à dificuldade — depois de suarmos durante toda a noite, a equação ainda por resolver, a frase grega por compreender — podem irradiar com a luz do Sol.

George Steiner,Errata: Revisões de Uma Vida
Também em http://aguarelast.blogspot.com

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14/09/10

APONTAMENTOS






O que fica de pé,se cair a liberdade?

J.Rudyard Lipling (1865 - 1936)

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GALANDUCHA, GALANDUCHA

poesia


Galanducha, Galanducha
Filha dum conde real
Oh quem dormira com ela
Uma noite a descansar

Dormia duas ou três
Se não se fosse a gabar
Logo à primeira noite
Logo se foi a gabar

À mesa dos estudantes
Onde estavam a jogar
Esta noite dormi eu
Com uma prenda delicada

Disseram uns para os outros
Quem seria a desgraçada
Foi a Dona Galanducha
Ela merece ser queimada

E daí a pouco tempo
Seu tio desconfiava
Que me mira ó meu tio
É uma saia mal talhada

Galanducha, Galanducha
Filha dum conde real
Oh quem dormira com ela
Uma noite a descansar

tradicional - de Marmeleiro - distrito da Guarda

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13/09/10

NOCTURNOS - 88

lua verde

A Lua (dizem os Ingleses)

A Lua (dizem os Ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma ideia se perde.

E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.

Sim, todos os meus desejos
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os Ingleses)
É azul de quando em quando.


Fernando Pessoa

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12/09/10

APONTAMENTOS


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"Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará."
Marcus Tulius Cicero

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11/09/10

REMEMBER


FOTOGRAFIA DE 11 DE SETEMBRO
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida,//
preservou-os
sobre a terra
rumo à terra.//
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.//
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.//
Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.//
Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.//
Wislawa Szymborska
de Instante, tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves, Relógio d'Água, 2006)

lembrado pelo Rui Almeida em http://ruialme.blogspot.com/

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PÉROLAS - 203

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A velha

Esculpida em silêncio,
sentada e sábia,
fita o horizonte da mágoa.

Ao seu lado, o mar murmura
as sílabas
do ocaso.

Ó beleza antiga e súbita:
sobre o seu ombro
o instante se debruça,
iluminado.

Adriano Espínola. Beira-sol

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10/09/10

EL PÁJARO

press bird


é de ti, passarinho, que fala
esta música. espero-te à varanda
do meu quarto, num abismo
que se ergue do chão aos meus olhos
ainda baços. encontraste aqui,
como eu, a tua sombra, pajarillo

tú me despertaste, enseñame a vivir
e vamos juntos, por aí, numa voz só,
entoando esta cantiga com os cavalos
bravos, fingindo a vida e logrando
a morte, recolhendo à terra,
passarinho, sem nada temer,

recolhendo à terra.

Renata Correia Botelho,n.1977
Small Song, Averno, Lisboa, 2010.
encontrado em http://hospedariacamoes.blogspot.com/

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09/09/10

LEITURAS - 148

slaveship

img.:turner

Se eu fosse pintor passava a minha vida a pintar o pôr do sol à beira-mar. Fazia cem telas, todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário.
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos, quando as nuvens tomam todo o horizonte com ar de ameaça, e outros doirados e verdes, com o crescente fino da lua no alto e do lado oposto a montanha enegrecida e compacta. Tardes violetas, neste ar tão carregado de salitre que torna a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os alicerces dos velhos fortes abandonados...
Um poente desgrenhado, com nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do norte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas-e não quer morrer...


Raul Brandão- Os pescadores- Pequenas Notas
recolhido em aguarelas de turner - aguarelast.blogspot.com/

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08/09/10

DO FALAR POESIA - 119

foto de ana assunção
foto de ana assunção

Chaque poème achevé devrait apparaître comme
.................................................un caillou
dans la forêt insondable de la vie ;
comme un anneau dans la chaîne qui nous relie
................................. à tous les vivants.

Le Je de la poésie est à tous
Le Moi de la poésie est plusieurs
Le Tu de la poésie est au pluriel.



Andrée Chedid
Encontrado em http://anaassuncao.multiply.com/


Cada poema acabado deveria aparecer como uma pedra.
na floresta insondável da vida;
como um elo na corrente que nos liga
au todos os viventes.
O Eu da poesia é de todos
O Me da poesia é vários
O Tu da poesia é no plural.

trad. A.Pais

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07/09/10

ESCREVER - 86

fosfors1

Prosa



Para saber se você está realmente se tornando um escritor, experimente não sentir nada quando escreve. Simplesmente escreva sem a mínima intenção de escrever. No momento certo. Sem compulsão. Faça suas coisas. Cuide de sua vida. Escrever é o de menos para quem escreve. E por favor, não repita o mantra absurdo: preciso escrever; se não escrever estarei morto. Não seja estúpido. Escreva. Nenhuma intenção. Não pretenda sequer que o texto seja lido. Isso é o mais importante. Nâo querer ser lido. Querer ser lido é um sintoma absoluto de total inaptidão à escrita. Está acompanhando? Preste atenção, porque isso aqui não é brincadeira. Esqueça você. Você é o que menos interessa. O importante é a diversão. É como riscar um fósforo.Vai ser somente uma vez e depois não se repetirá. Você pode até pegar um outro fósforo da caixa e riscar. Mas esse gesto não significa um novamente. São fósforos diferentes. O modo como você displicentemente enfia as mãos nos bolsos à cata daquela caixa de fósforos. Suas mãos localizam o objeto e você sabe que é a caixinha pois foi você mesmo que decidiu por vontade própria usar fósforos em vez de isqueiros. Não tem outra. Você não pensa nada. Somente retira a caixa do bolso e faz aquela sonoplastia de chacoalhar os palitos todos. Abre-a. Tira um dos fósforos lá de dentro. Qualquer um deles. Risca-o. Pronto! Tudo acontece muito rápido. Percebe? Sem pensar nada. Nenhuma performance. Apenas o gesto inocente de acender um fósforo. [...]

Nara em Cecília não é um cachimbo
– ver a continuação em
http://cecinest.blogspot.com/search?updated-max=2010-08-22T18%3A59%3A00-03%3A00&max-results=15

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06/09/10

LER OS CLÁSSICOS - 131

autores


Exultação

Não há maior maravilha do que percorrer
as alturas estreladas, abandonar as lúgubres regiões
.......................................................da terra,
cavalgar as nuvens, subir aos ombros de Atlas,
e ver muito distantes, lá em baixo, as pequenas

......................................................figuras
que vagueiam e erram, desprovidas de razão,
inquietas, no temor da morte, e aconselhá-las,
e fazer do destino um livro aberto.

Ovídio, in Metamorfoses.

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05/09/10

Ainda Esplendor na relva


cinema


Esplendor na relva

Eu sei que Deanie Loomis não existe
mas entre as mais essa mulher caminha
e a sua evolução segue uma linha
que à imaginação pura resiste


A vida passa e em passar consiste
e embora eu não tenha a que tinha
ao começar há pouco esta minha
evocação de Deanie quem desiste


na flor que dentro em breve há-de murchar?
(e aquele que no auge a não olhar
que saiba que passou e que jamais


lhe será dado a ver o que ela era)
Mas em Deanie prossegue a primavera
e vejo que caminha entre as mais


Ruy Belo, O Bosque Sagrado
(colectânea de poemas sobre cinema)

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ESPLENDOR NA RELVA





Um dos meus filmes de vida

- real.por Elia Kazan,com Natalie Wood e Warren Beatty-

O poema(excerto lido)

Though nothing can bring back the hour

Of splendour in the grass, of glory in the flower,

We will grieve not, rather find

Strength in what remains behind;

William Wordsworth



Nada poderá fazer voltar a hora
Do esplendor na relva, da glória na flor,
Não nos lamentaremos, antes procuraremos
A força no passado

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04/09/10

POETAS MEUS AMIGOS -136


árvores



figos maduros

.................................ai de mim
com esta figueira crescendo dentro
sem saber direito o momento da poda
ou da colheita

............................... ai de mim
que não entendo de árvores
e não compreendo o que dizem
........................o que fazem

como agem na hora do corte
e depois
na transcendência das figueiras

..........não sei da casca
..........grossa no caule leitoso
..........que com o tempo será
..........fibra impermeável

................................
ai de mim
que percorro a mansidão invisível
como um galo cumprindo o ofício
.............................das manhãs


lau siqueira -poema do livro autores
Lau publica também no seu blogue http://www.poesia-sim-poesia.blogspot.com/)

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03/09/10

DIZIA UMA VEZ AQUILINO

turismoportugall

Dizia uma vez Aquilino que em Portugal
os filósofos se exilavam ainda em seu país
(v.g. Spinoza). O curioso porém
é que também ninguém foi santo lá:
os nascidos em Portugal foram todos sê-lo noutra parte
(St. António, S. João de Deus, etc.)
e outros santos portugueses, se o foram,
terá sido, porque, estrangeiros que eram e em Portugal
vivendo, não tiveram outro remédio
(v.g. Rainha Santa) senão ser santos,
à falta de melhor. Oh país danado.
Porque os heróis também nunca tiveram melhor sorte
(Albuquerque e outros que o digam) a menos que
tivessem participado de revoluções feitas
*em vez de* (v.g. o Condestável que fez
fortuna e a casa de Bragança e acabou só Santo quase).


Jorge de Sena

img:turismo de portugal

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02/09/10

CAMONIANAS - 63



O cisne quando sente ser chegada

O cisne quando sente ser chegada
a hora que põe termo à sua vida,
harmonia maior, com voz sentida,
levanta por a praia inabitada.

Deseja lograr vida prolongada,
e dela está chorando a despedida:
com grande saudade da partida,
celebra o triste fim desta jornada.

Assim, senhora minha, quando eu via
o triste fim que davam meus amores,
estando posto já no extremo fio;

com mais suave acento de harmonia
descantei por os vossos desfavores
la vuestra falsa fé, Y el amor mío.

Luís de Camões

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01/09/10

Uma canção para Setembro



Au coeur de septembre

Seuls dans ma chambre / Au cœur de septembre / Entre la pluie /Et l'hirondelle / Seuls dans ma chambre / Au cœur de septembre / Quand vient la nuit /Je me rappelle / Seuls dans ma chambre / Nous vivions ensemble / D'un cœur nouveau /Des amours nouvelles / Seuls dans ma chambre / La vie était tendre / Et belle, belle, belle.//


Ciel de septembre / Plus gris que bleu / Tu te rappelles / L'arbre qui tremble / Au vent de septembre /Et la prairie / Un peu moins verte / Tant de septembre / Au cœur de ma chambre / Ont passé depuis / Si tu te rappelles / Chaque septembre /Ma vie est plus tendre / Plus belle, belle, belle.//


J'aime septembre / Et j'aime t'attendre / A l'ombre bleue / Des feuilles blondes / J'aime septembre / Quand tu viens me rendre / Les jours plus courts / Les nuits plus longues / Je vois descendre / De l'or et de l'ambre / Au fond de tes yeux / Que l'amour inonde / J'aime septembre / Le temps le plus tendre / Du monde, monde, monde.

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OMNIA VINCIT AMOR - 150




Do amor - IV

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da Natureza pede
o amor em dois olhares.


Fiama Hasse Pais Brandão

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