Muito errámos em muitas ocasiões. Fomos enganados na nossa boa fé, outras tantas. Mas nunca professores e alunos estiveram tão unidos na sua generosidade, nunca vi juntar-se tanta gente em torno do que consideravam boas causas (mesmo que, mais tarde, viessem a considerá-las não assim tão boas...).
Nem tudo correu bem, é certo. A história far-se-á desapaixonadamente um dia. Mas foi bom poder ver a libertação dos presos políticos, foi bom ter a ilusão de que podíamos reconstruir a História,- foi bom também ver mais tarde o país seguir, após os sobressaltos de 2 anos, uma vida democrática, moderna, europeia, civilizada.
Foi bom estar nas primeiras eleições livres, em 1975, como tinha sido linda a festa do 1º primeiro de maio...em 1974. FOI BOM VER A FESTA. Uma festa de todo um povo que era bom e generoso - e se muitos pecámos durante o chamado Período Revolucionário em Curso, a verdade é que o balanço final é positivo : podemos orgulhar-nos de sermos um país e um povo que soube vencer a 'austera, apagada e vil tristeza' de que já Camões falava, de recuperar direitos de cidadania longamente usurpados, de se erguer, sem complexos, face a uma Europa que finalmente nos aceitava no seu seio, como igual em dignidade e direitos.
E de termos feito uma revolução de um modo geral civilizada, a primeira 'de veludo' das que aconteceriam na Europa - uma Europa que assistiu mais tarde, à libertação do povo espanhol, dos países do Centro (Alemanha de Leste, Polónia, Hungria, Checoslováquia, Roménia e Bulgária),dos Países Bálticos e, finalmente , de outros povos e nações da ex - União Soviética. Uma Europa maior porque mais livre - mesmo se albergando ainda grandes inquietações e,posteriormente,uma guerra terrível na Bósnia e noutras regiões da ex - República da Jugoslávia...
Depois de termos mostrado a essa Europa como era o mapa do mundo, depois de séculos de 'vil tristeza', erguíamo-nos de novo, encerrando o ciclo do império, sempre atlânticos, recuperando a grandeza [comprometida em Alcácer - Quibir] de não aceitar como fatal a infelicidade, o 'nevoeiro' de que falava Fernando Pessoa - e de podermos voltar a sonhar uma pátria mais justa e solidária.
E foi bom, também, ver nascer os países africanos de expressão portuguesa, que hoje são povos irmãos e não já inimigos.E ver libertar-se de outras ditaduras o Brasil, a Argentina e outros povos de além - mar.
Compete-nos continuar o sonho, crescer mais e melhor, e, sobretudo, reparar injustiças, democratizar e desenvolver mais - visto que a missão de descolonizar, bem ou mal, foi feita. Essa é a tarefa dos políticos, é certo, mas é também a de cada um de nós.
(continua)
Amélia Pais
[obs.: teria mais lógica fazer sair esta crónica(penúltima) no dia 25 ...só que muito possivelmente não terei possibilidade de aceder à net,por me encontrar fora de casa].Assim vai já hoje, seguindo a última amanhã.Mas podem contar aos meninos só no dia 25...]