18/04/05

NOTÍCIAS DO ANTIGAMENTE - 5

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notícias do 'antigamente'- crónicas contra o esquecimento

os jornais/a censura *:

Não havia Liberdade de imprensa - isto é, de informar os cidadãos sobre o que se passava. Salazar instituiu, por decreto de 19.04.1933, a censura prévia a todas as publicações periódicas, folhas volantes, folhetos e outras publicações,
bem como a espectáculos, sempre que abordassem assuntos de carácter político ou social (lutas operárias, por ex.). As comissões de censura cometeram inúmeros abusos, por conta de tal decreto – muitos jornalistas acabaram por ser julgados em tribunais comuns ou em tribunais especiais,para crimes políticos.

Como funcionava: Em Lisboa, os serviços de censura recebiam os telexes das agências noticiosas; depois davam resposta: livre, cortado (total ou parcialmente) ou suspenso. As agências transmitiam então estas indicações aos jornais. No caso de notícias do país, os jornais enviavam provas dos textos já compostos tipograficamente, recebendo, depois, instruções sobre o que deveriam 'cortar' - o famoso lápis azul assinalava os cortes. Assim, os leitores só sabiam o que convinha aos censores, ou seja, ao governo. Ou então, o que liam em revistas ou jornais estrangeiros (quem tinha acesso a eles) ou captavam em emissões clandestinas em onda curta, na rádio.

Alguns exemplos da censura (notícias censuradas):

«Julgamento de abate de burros, no Tribunal de Géneros Alimentícios: Não pode ser publicada qualquer referência aos meios coercivos
[1]para obter confissões.»

«Inundações :os títulos não podem exceder a largura de 1/2 página e vão à Censura. Não falar no mau cheiro dos cadáveres. Actividades beneméritas de estudantes: cortar»

«Posto em liberdade, por lhe ter sido concedido o Habeas Corpus, o Dr. Mário Soares apresentou cumprimentos aos jornais--cortar»

«Telegrama 140 da Reuter. Não audir, no título, ao Partido Comunista Português, pois é coisa que não existe.»
[2]

«Final da Taça de Portugal (Benfica - Académica. Não falar em luto académico.» (obs. em virtude da repressão exercida sobre movimentos associativos em 1969)

«Não dizer, em título, que foi aprovada em Itália a lei do divórcio. Dizer que foi apreciada.»

«Fotos de brinquedos de Natal, reproduzindo armas de guerra. - cortar as legendas pacifistas.»

«O Papa recebeu no Vaticano terroristas portugueses - cortar tudo. muito cuidado.»(obs.: tratava-se da notícia de que o Papa recebera representantes de movimentos de libertação das colónias portuguesas de África)

«Reitor do Liceu de Faro diz que os resultados dos exames ainda não saíram devido a estarem os professores fatigados. - cortar»

«Proibido dizer que no Rossio soltaram um animal (porco) com um barrete de almirante (crítica à eleição de Américo Tomás), pelo que houve cargas de polícias e prisões.»

«Sá Carneiro renunciou ao cargo de deputado e, nesse sentido, escreveu uma carta ao presidente da Assembleia - notícia e carta estão proibidas.» (obs .: Sá Carneiro tinha sido eleito como liberal para a Assembleia Nacional, mas demitiu-se por discordância política; após o 25 de Abril viria a fundar o PSD e chegou a primeiro-ministro)

«Notícia de que uma família vivia numa barraca e, depois, foi instalar-se numa casa, de onde o senhorio a expulsou - cortar

«Reclame do livro do general Spínola Portugal e o Futuro - É para proibir

«Reunião de bancários hoje em Lisboa. Reduzir ao mínimo. Só dizer: realizou-se ontem»

*Elementos deste texto foram extraídos do livro de Victor Silva Lopes, Iniciação ao Jornalismo - CLB, Lisboa, 1980


imagem: o carimbo indispensável à saída do jornal

(continua)


Amélia Pais

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[1] Leia-se prática de tortura nas prisões
[2] Como sabes, existia clandestinamente desde os anos 20 – e deram bastante que fazer à Pide...

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