APRENDER A DESAPRENDER
"Numa palavra, devo renascer periodicamente, tornar-me mais jovem do que sou. Aos cinquenta anos, Michelet começava a sua vita nuova: nova obra, novo amor. Mais velho do que ele (compreenda-se que o paralelo estabelecido é afectivo), entro eu também numa vita nuova, marcada agora por este novo lugar, esta nova hospitalidade. Tento assim deixar-me levar pela força de toda a vida viva: o esquecimento. Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas surge em seguida uma outra em que se ensina o que se não sabe: a isso se chama procurar. Chega agora, talvez, a idade de uma outra experiência: a de desaprender, de deixar germinar a mudança imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessámos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda que ousarei aqui arrebatar, sem complexos, à própria encruzilhada da sua etimologia. Sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível."
.- Roland Barthes, Lição - Comment vivre ensemble: simulations romanesques de quelques espaces quotidiens 1977 -cit. in http://abnoxio.blogs.sapo.pt/ *****
Este texto de Barthes fez-me lembrar um poema -o XXIV -O que nós vemos das coisas são as coisas, escrito em 1914 - d 'O Guardador de Rebanhos, ainda que aqui com dimensão diferente da de Barthes, na perspectiva do desejado impossível regresso à inocência (ao não saber) - em que Alberto Caeiro diz:
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O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
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