CAMONIANAS - 57
POETAS CANTAM CAMÕES
Camonocórdia num cais de Lisboa
A rocha de cristal, Camões. Nós outros,
Irisações de sol, pobre poeira.
Língua que foste de uns e foste de outros,
Língua de continentes, marinheira,
Língua de Brancos, Negros e ainda outros,
Que bom haver quem como nós te queira!
Pintores, músicos e artistas outros
Entendidos serão na terra inteira,
Léguas e léguas de países outros.
Poetas, não. A Língua é prisioneira.
A voz com que cantamos, uns e outros,
Será sempre aos de além voz estrangeira.
Filhos do burgo ocidental, nós outros,
Fiéis a tanto afã, tanta canseira,
Ao bem da fama como a tantos outros
Sabemos renunciar de alma fagueira:
Em paga deste amor, maior que os outros,
Baste o poder cantar de tal maneira.
Ribeiro do Couto (em Longe, Livros do Brasil, 1961)
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