13/04/09

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 33


Erhart

Madalena
...e lhe regou de lágrimas os pés,
e os enxugava com os cabelos da sua cabeça.

Evangelho de S. Lucas.

Ó Madalena, ó cabelos de rastos,
Lírio poluído, branca flor inútil,
Meu coração, velha moeda fútil,
E sem revelo, os caracteres gastos,

De resignar-se torpemente dúctil,
Desespero, nudez de seios castos,
Quem também fosse, ó cabelos de rastos,
Ensanguentado, enxovalhado, inútil,

Dentro do peito, abominável cómico!
Morrer tranquilo, – o fastio da cama.
Ó redenção do mármore anatómico,

Amargura, nudez de seios castos,
Sangrar, poluir-se, ir de rastos na lama,
Ó Madalena, ó cabelos de rastos!

Camilo Pessanha - Clepsydra

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