12/02/06

O PRAZER DE LER - 38



O leitor e o crítico

É em relação a ensaios sobre poetas individuais que acabo por considerar a pergunta: em que medida pode o crítico alterar o gosto público por um ou outro poeta ou um ou outro período da literatura do passado? Fui eu mesmo, por exemplo, em algum grau responsável por despertar o interesse pelos, e fomentar a apreciação dos primeiros dramaturgos ou dos poetas metafísicos? Diria que muito dificilmente - como crítico. Devemos distinguir, claro, entre gosto e moda. A moda, o amor à mudança por si própria, o desejo de algo novo, é muito transitório; o gosto é alguma coisa que brota de uma fonte mais profunda.

Para um jovem leitor, ou um crítico de gosto incipiente, os autores que a sua geração favorece podem aparentar ser melhores do que os preferidos pela geração anterior; o crítico mais cônscio pode reconhecer que são simplesmente de índole mais afim, mas não necessariamente de maior mérito. É uma função do crítico ajudar o público letrado do seu tempo a reconhecer a sua afinidade com um poeta, ou com um tipo de poesia, ou com uma época de poesia mais do que com outra.
T.S.Eliot
, Ensaios escolhidos
Edições Cotovia, Lisboa, 1992.
Tradução: Maria Adelaide Ramos.

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