13/06/10

NO ANIVERSÁRIO DE FERNANDO PESSOA

ANIVERSÁRIO

(excertos)

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.

[...]


O que sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...

O que sou hoje (e a casa dos que me amaram

treme através das minha lágrimas),

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

É terem morrido todos,

É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal,

Com uma dualidade de eu para mim...

Comer o passado como pão de fome,

sem tempo de manteiga nos dentes!


[...]

Pára, meu coração! Não penses!

Deixa o pensar na cabeça!

Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!

Hoje já não faço anos. Duro.

Somam-se-me os dias.

Serei velho quando o for.

Mais nada.

Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...


O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Fernando Pessoa- Álvaro de Campos

fonte da imagem : Casa Fernando Pessoa

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