O (des) PRAZER DE LER -112
Cesare Pavese já tinha concluído que Lavorare stanca - Trabalhar cansa (belíssimo livro de poemas).Agora é o cansaço da literatura.Para reflectirmos...
O cansaço da literatura
Entre os sinais que me avisam de que a juventude terminou, o principal é aperceber-me de que a literatura já não me interessa verdadeiramente. Quero dizer que já não abro os livros com aquela viva e ansiosa esperança de coisas espirituais que, apesar de tudo, outrora sentia. Leio e quereria ler cada vez mais, mas já não recebo as várias experiências com entusiasmo, já não as fundo num sereno tumulto pré-poético. A mesma coisa acontece-me ao passear por Turim; já não sinto a cidade como um incentivo sentimental e simbólico para a criação. "Já está feito", dá-me vontade de responder de cada vez. Tomadas em justa conta as minhas várias equimoses, obsessões, fadigas e terrenos estéreis, resulta claro que já não sinto a vida como uma descoberta e, muito menos, então, como poesia - mas, antes, como um frio material para especulações, análises e deveres. Aqui encalha, agora, a minha vida: a política, a prática, tudo coisas que se aprendem nos livros, mas os livros não alimentam como o faz, pelo contrário, a esperança de criação. Ora, quando novo, procurava um sistema ético: descoberta a posição do impassível explorador, vivia-a e desfrutava-a sob a forma de criação. Agora, que deixei definitivamente de a desfrutar sob a forma de criação, apercebo-me de que não serve, sequer, para viver. Eis um grave dilema: perdi tempo, até agora, ao escolher a poesia, ou o estado atual é premissa de mais profunda e vital criação?
Cesare Pavese
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