DESASSOSSEGOS - 89
são os rios
Somos o tempo, somos a famosa
parábola de Heraclito,o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse rio
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no rio que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado
runo ao seu mar. De fogo está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moeda lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
e no entanto ainda há algo que se queixa.
Jorge Luís Borges, in Os Conjurados
Etiquetas: desassossegos, os meus poetas
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