20/04/09

POETAS MEUS AMIGOS -102



Morre-se de tanta coisa
Quanto a mim morro-me de ausência
Morro-me solitário num trilho de noite insone
esvoaçando com um zunido de estrelas e rolas
[brancas morro-me
com a lepra do silêncio alastrando por entre o cio
[adocicado das abelhas
e o estertor amarelo verde da terra morro-me
[ num gotejar de
pequenas casas oblongas, que para sempre enfeitam
[ o meu bosque, onde
tu não pousas já nos balcões suspensos da minha

[espera
morro-me com todo este céu a cair-me por entre os dedos;
[ pedacinhos
de memória pendurados para uma oferenda estéril, estéril
[ e inútil
morro-me também da vastidão do frio impresso nas farpas
[aceradas
da melancolia, onde um minúsculo grão de neve peregrino
[ derrete,
persistente, na bandeja dos caminhos levantados, para que
[neles possa
enfim desenhar a música dos dias tristes, quando tu,

[sem eu saber
porquê, nem te aproximas nem acenas


ah sim, também se morre de silêncio


Victor Oliveira Mateus, A noite e a voz
in http://www.adispersapalavra.blogspot.com/

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