NOCTURNOS - 61
Última Estação
[excerto inicial]
Poucas foram as noites de luar de que gostei.
O a-bê-cê dos astros que se soletra
Tal como o traz o penar do dia que se fina,
Dele se tirando novos sentidos e novas esperanças,
[ mais claramente pode ler-se.
Agora que aqui estou desocupado a meditar, poucas
[ luas me ficaram na memória;
As ilhas, a dorida cor da Virgem, o lento declinar
Do luar nas cidades do norte, que por vezes lança
Nas ruas agitadas, nos rios, nos membros
[dos homens,
Um pesado torpor.
No entanto, ontem à noite, neste nosso último cais
Onde aguardamos que amanheça a hora do regresso
Como uma antiga dívida, uma moeda que ficasse
[ durante anos
No cofre dum avarento, e por fim
Chegasse o momento de pagar e se ouvissem
Os cobres a tilintar na mesa,
Nesta aldeia tirrena, por detrás do mar de Salerno
Por detrás dos portos do regresso, no fim
Duma borrasca de Outono, a Lua furou as nuvens
E as casas na encosta da outra margem
[fizeram-se esmalte.
Silêncios que a lua ama.
[…]
Giórgos Seferis
Tradução: Manuel Resende
Etiquetas: nocturnos, os meus poetas
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