09/04/07

LEITURAS - 39

"E quais eram, afinal, a forma e a máscara sob as quais o amor vedado e oprimido reaparecia? Assim perguntou o Dr. Krokowski, e deixou o seu olhar passar ao longo das filas, como se esperassse seriamente uma resposta dos seus ouvintes. Mas cabia-lhe ainda a ele dizê-lo, a ele que tantas coisas dissera já. Ninguém, a não ser ele o sabia; mas ele não falharia certamente, notava -se na sua expressão. Com os seus olhos ardentes, a sua palidez de cera, a sua barba negra e as sandálias de monge por cima das meias de lã cinzenta parecia simbolizar em pessoa, o combate entre a castidade e a paixão, de que acabara de falar. Pelo menos era a impressão de Hans Castorp, enquanto, como todos os demais esperava com suma curiosidade ficar sabendo sob que forma reaparecia o amor recalcado. As mulheres mal se atreviam a respirar. O promotor Paravant coçou mais uma vez a orelha para que, no instante decisivo, pudesse recolher a resposta. Depois o Dr. Krokowski disse: "Sob a forma de doença". O sintoma da doença era uma actividade amorosa disfarçada e toda a doença era metamoforse do amor."

Thomas Mann in "Montanha Mágica"

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons