14/03/12

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 104

vale de rosas

Ângelus

    Vê, Platero, quantas rosas caem por todos os lados: rosas azuis, cor-de-rosa, brancas, sem cor...Parece que o céu está se desfazendo em rosas. Vê como se enchem de rosas minha testa, meus ombros, minhas mãos...O que farei com tantas rosas?      Acaso sabes de onde é essa flora delicada, que não sei onde é, que enternece a cada dia a paisagem e a deixa suavemente rosada, branca e azul-celeste – mais rosas, mais rosas – como um quadro de Fra Angélico, aquele que pintava a glória de joelhos?      E ´como se das sete galerias do  Paraíso lançassem rosas à terra. Como neve suave e vagamente colorida, as rosas ficam na torre, no telhado, nas árvores. Vê: tudo o que é forte se abranda com seu adorno. Mais rosas, mais rosas, mais rosas..  Parece, Platero, enquanto soa o Ângelus, que nossa vida perde a força cotidiana e que outra força, de dentro, mais altiva, mais constante e mais pura faz, como em jorro de graça, tudo subir às estrelas que já se acendem entre as rosas...Mais rosas...Teus olhos, que não vês, Platero, e que ergues mansamente para o céu, são duas belas rosas.

 Juan Ramón Jiménez em Platero e Eu
 Tradução de Javier Zabala

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