NOCTURNOS -107
A NOITE
Pouco sei da noite
mas a noite parece saber de mim,
e para mais, conforta-me como se me desejasse,
cobre-me a consciência com as suas estrelas.
Talvez a noite seja a vida e o sol a morte.
Provavelmente a noite é nada
e nada as conjecturas sobre ela
e nada os seres que a vivem.
Talvez as palavras sejam tudo o que existe
no enorme vazio dos séculos
que nos arranham a alma com as suas recordações.
Mas a noite há-de conhecer a miséria
que bebe do nosso sangue e das nossas ideias.
Ela há-de atirar ódio às nossas observações
sabendo-as cheias de interesses, de desencontros.
Mas sucede que ouço a noite chorar nos meus ossos.
A sua lágrima imensa delira
e grita que algo partiu para sempre.
Um dia voltaremos a ser.
Alejandra Pizarnik, in Las Aventuras Perdidas (1958)
Versão de Henrique Fialho in http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/
mas a noite parece saber de mim,
e para mais, conforta-me como se me desejasse,
cobre-me a consciência com as suas estrelas.
Talvez a noite seja a vida e o sol a morte.
Provavelmente a noite é nada
e nada as conjecturas sobre ela
e nada os seres que a vivem.
Talvez as palavras sejam tudo o que existe
no enorme vazio dos séculos
que nos arranham a alma com as suas recordações.
Mas a noite há-de conhecer a miséria
que bebe do nosso sangue e das nossas ideias.
Ela há-de atirar ódio às nossas observações
sabendo-as cheias de interesses, de desencontros.
Mas sucede que ouço a noite chorar nos meus ossos.
A sua lágrima imensa delira
e grita que algo partiu para sempre.
Um dia voltaremos a ser.
Alejandra Pizarnik, in Las Aventuras Perdidas (1958)
Versão de Henrique Fialho in http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/
Etiquetas: nocturnos
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