14/09/09

OS MEUS POETAS - 119



Ainda

Amei. É incompreensível como o tremor das árvores.
Agora estou extraviado na luz porém sei que amei.
Eu vivia num ser e seu sangue deslizava pelas

[minhas
veias e
a música me envolvia e eu mesmo era música.
Agora,
quem está cego nos meus olhos?
Umas mãos passavam sobre meu rosto e envelheciam

[docemente. Que
foi existir entre cordas e espíritos?

Quem fui nos braços da minha mãe, quem fui no meu

[próprio coração?
É estranho:
somente aprendi a desconhecer e esquecer.

[É estranho:
agora, o amor
habita no esquecimento.


António Gamoneda
trad. de António Cícero

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