NOCTURNOS - 59
Dindinha - Lua
__ "A bênção, Dindinha-Lua!
A bênção, Dindinha-Lua!"
E a lua vinha por trás da serra
redonda e branca como uma roda
de andor de carro de procissão...
Lírios choviam por sobre a terra...
Ficava tudo branco... branquinho...
telhados... casas...torres...caminho...
Ficava tudo como algodão...
E a meninada corria à rua,
gritando todos , em profusão,
olhos erguidos, erguida a mão:
__ "A bênção, Dindinha-Lua!
A bênção, dindinha-Lua!"
E a lua branca, num grande véu,
Velhinha boa, subia o céu...
__Dindinha-Lua, dá-me um vestido!...
__Dindinha-Lua, dá-me um dinheiro!
Cada menino tinha um pedido,
cada um queria pedir primeiro...
Meus amiguinhos! Que longe vão!
Que doce e grata recordação!
E ah! Quantas vezes, hoje, no outono
da minha vida, nesse abandono
de alma que punge desolador,
se vejo a lua nascer da serra,
redonda e branca como uma roda
de andor de carro de procissão,
sinto um aperto no coração.
E erguendo os olhos ao céu, sozinho,
digo a mim mesmo, muito baixinho,
muito comigo, cheio de ardor:
Dindinha-Lua, dá-me um carinho!
__Dindinha-Lua, dá-me um amor!
Adelmar Tavares / Noite Cheia de Estrelas
in Poesias Completas
Etiquetas: nocturnos
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