04/09/08

LEITURAS - 85





[Na tua face]

Bárbara! e ela estacou instantânea, a entender. Depois rodou sobre si para donde ouvira o chama­mento. Mas ficou ainda imóvel, não te movas. Ficou ainda imóvel, à procura de uma razão de eu estar ali a chamá-la. E foi esse breve instante que se me gravou para a vida inteira. O destino. Quem foi onde eu não estava? Alguém pois escolhe por nós o que escolhemos para a eternidade? Alguém. Um pacto feito fora da acidentalidade exterior, estou-o pen­sando com uma energia excessiva, deve ser assim. Bárbara. Babi - oh, não, por favor. Babi, não. Mas é o seu nome familiar, deixe-me ser afectivo ternurento infantil - quando voltarei a vê-la? Por favor, ela vol­tou a dizer. Tanta coisa ainda quente na lembrança. Podia agora chamá-las e elas vinham, animais fami­liares. Talvez venha a chamá-las. Mas não agora. E é sempre preciso despertá-las da sonolência, chamá­-las talvez aos berros como às crianças malcriadas e desobedientes. Ou deixar que me apanhem dis­traído e me saltem à frente como os ladrões. Mas tu não.

Vergílio Ferreira,
Na Tua face

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