02/01/09

DO FALAR POESIA - 91



Exercício

assim pensava ter sido
sem importar se acertava.
havia estranhos efeitos, é certo:
da leitura de alguns poetas
resultavam às vezes inusitadas lembranças.
a gramática, sempre tão confusa
a língua, amada e limpa.
porque pensar é um exercício
que só se faz num idioma solícito.
noutras folhas, houve um tempo.
o futuro, quem o saberá?
o passado, quem o descreveria com exatidão?
ou será que sempre ocorreram brumas?
futuro do pretérito, tempo condicional,
conjugações obrigatórias
e no entanto: metamorfoses
(hemistíquios, versos brancos)
e a língua, amada e nua.
porque poesia é um exercício
que só se faz num idioma íntimo.


Walter Cabral de Moura

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