O PRAZER DE LER- 67
Às vezes fecho o livro que estou lendo
para expurgar fantasmas
que como deuses me invadem.
Os livros têm licença de mentir
ou sufocar de verdades quem se arrisca.
Explicam nossas culpas
ou tocam sem cortesia na alma de quem lê
e atingem irreverentes os sentidos.
Às vezes me percebo nas palavras
outras, sofro
quando sem compaixão nem saída
a vida escrita esmaga um personagem.
Palavras que se atraem mutuamente,
escritos e leitores dão-se as mãos
a evocar instâncias
e bifurcar-se num jardim de Borges
multiplicados enfim,
outras histórias,
sobre segredos, memórias, sons e sonhos.
Perseverantes e inertes nas estantes
estão vivos:
habitam-nos razões inesperadas
canais de lágrimas e motes para o riso.
Em sua secreta música encapada
uns são baladas
outros sinfonias
outros ainda notas dissonantes
mutantes harmonias em palavras.
Adelaide Amorim - in http://inscries.blogspot.com/
Etiquetas: o prazer de ler, poetas meus amigos
<< Home