25/02/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 6



Tenho sonhos cruéis: n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-mo coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta de harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu de agora,

Sem ela o coração é quase nada:
– Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.


Camilo Pessanha , Clepsydra

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