01/11/05

O TERRAMOTO DE 1755 EM LISBOA - 1

imagem: gravura francesa do s.XVIII

Dois textos de Voltaire - o primeiro

Poema sobre o desastre de Lisboa
(excerto)

Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra!
Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra!

Exercício eterno que inúteis dores mantém!
Filósofos iludos que bradais «Tudo está bem»;
Acorrei, contemplai estas ruínas malfadas,
Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas,

Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados
Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados
Cem mil desafortunados que a terra devora,
Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora,

Enterrados com seus tectos terminam sem assistência
No horror dos tormentos sua lamentosa existência!
Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes,
Ao espectáculo medonhos de suas cinzasfumegantes,

Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento,
Que de um Deus livre e bom requer o discernimento?»

Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:
«Deus vingou-se, a morte deles é o preço de seus crimes?»

Que crime, que falta cometeram estes infantes
Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?
Lisboa, que não é mais, teve ela mais vícios
Que Londres, que Paris, mergulhadas nas delícias?

Lisboa está arruinada, e dança-se em Paris.

Voltaire

Para saber mais -ver, entre outros, http://www.junior.te.pt/servlets/Rua?P=Portugal&ID=807

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