LER OS CLÁSSICOS - 9
DESPEDIDA DE HEITOR E ANDROMACA
Depois que assim falou, o ilustre Heitor estendeu os braços ao filho. Logo a criança se voltou aos gritos, para o seio da ama de bela cintura, assustado com o aspecto do seu amado pai,com medo do bronze e do penacho de crinas de cavalo,que via tremer, assustador, no alto do capacete.
Desatou a rir o pai querido e a mãe venerável.
Logo o ilustre Heitor retirou o capacete da cabeça e o pousou no solo, todo resplandecente.
Depois que beijou o caro filho, e o embalou nos braços,dirigiu esta prece a Zeus e aos outros deuses:
"Zeus e demais deuses, concedei-me que este meu filho venha a ser como eu, se distinga entre os Troianos,seja assim forte e governe Ílion com o seu poder. E que alguém diga: "É bem mais valente que o pai!"quando regressar do combate. Que traga os despojos sangrentos
do inimigo que abateu, para gáudio de sua mãe."
Dito isto, pôs nos braços da esposa o filhinho; ela recebeu-o no seio perfumado,entre risos e lágrimas; condoeu-se o marido ao vê-la,acariciou-a, e dirigiu-lhe estas palavras, chamando-a pelo nome:
«Louca, não te aflijas assim no teu coração!
Ninguém me lançará ao Hades contra as ordens do Destino! Garanto-te que nunca homem algum, bom ou mau,escapou ao seu Destino, desde que nasceu! Vai para casa tratar dos teus trabalhos,o tear e a roca, e dá ordem às tuas aias de fazer o seu serviço; a guerra diz respeito aos homens, a quantos nasceram em Ílion, e a mim mais que a nenhum!"
Homero - Ilíada
(tradução de Maria Helena da Rocha Pereira)
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