25/06/05

POEMAS DE AMIGOS -6

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ABRIL

Choveu há pouco.
A terra molhada envia-me
bilhetes aéreos
que se abrem,
tal qual caleidoscópio olfativo,
contando-me de ervas, arbustos e flores.

O ar lavado descerra portas e janelas
para aquele Abril, lá longe,
que chega feito líquido verde
em envelope de vidro,
design tão moderno
de frasco bojudo.

Tal qual me ensinaste,
passo –o ,
gota a gota,
parcimoniosamente,
nos lóbulos das orelhas,
dobras de cotovelos, pulsos
e joelhos.

E aspiro, suavemente,
enxergando-te através do
espelho triplo da velha penteadeira
de madeira escura
de teu quarto.

Paradoxo de cheiro que
ao ser lavado pela chuva,
intensifica-se,
molhando-me por inteiro.

Olha, mãe: meu peito pinga.


Eneida Leite
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