06/01/12

POETAS MEUS AMIGOS -158

melancolie-t.lautrec
toulouse lautrec, retrato de suzanne valadon


No rasto da tristeza
Mal entrei 
vi 
a mulher passeava os olhos
 
nas paredes cheias do café
 
duas lágrimas de vinho no copo branco
 
uma maçã mordida ao lado do jogo de xadrez
 

Entrou-me aqui - disse a dona do café-
 
só adivinho misérias
 

Voltei a olhar
vi
 
a mulher tinha uma medalha no fio
 
nas mãos dois anéis de coração
 
um de vidro outro de ouro
 
olhava o fim da tarde na serpentina
 
da televisão
 


Um ruído sobressaltado e decifrado pela dona do café
 
-não tenho visto nada em condições
 
só adivinho misérias_
 


A mulher dizia isto
 
naquele tempo os campos só davam estradas
 
as estrelas morriam no calor das noites
 
havia um coração peregrino que era o meu
 
não sofria caminhos nem dava morte
 
anoitecia tanto
 
eu ainda não estava aqui
 

Levantou -se e veio ao meu encontro
 
disse -me
 
vou contar-lhe um segredo
 
cheguei pela margem aqui
 
estendeu-me as mãos frias
 
fechou os olhos
 
no contentamento de calor humano
 

eu não incomodo ninguém

José Ribeiro Marto
http://vaandando.blogspot.com/

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons