PENSAR - 114
Desde muito tempo penso que a Arte não é uma categoria, um domínio que abrangeria uma infinidade de noções e de fenômenos com todas as suas ramificações; pelo contrário, é qualquer coisa de restrito, de concentrado; é preciso entender por isso um princípio fundamental, um elemento da obra de arte, o nome da força que encontra em si sua aplicação, da verdade que põe em ação. A Arte jamais me pareceu ser um objeto ou um aspecto da forma, mas antes um elemento misterioso e oculto do conteúdo. Para mim, é claro como o dia, sinto-a por todas as fibras de meu ser, mas como exprimir e formular esse pensamento? As obras falam de maneiras bem diversas: pelos temas, pelas situações, pelos enredos, pelos heróis. Mas falam sobretudo pelo que ocultam de arte. A arte das páginas de "Crime e Castigo" transtorna mais que o crime de Raskolnikov.A arte primitiva, a arte egípcia, a arte grega, nossa arte, seguramente, através dos milênios, são uma e mesma coisa, a Arte, sempre no singular. É um certo pensamento, uma certa afirmação, sobre a vida, demasiado universal para que seja possível decompô-la em palavras separadas; e quando um átomo dessa força se insere numa mistura mais complicada, essa parcela de arte pesa mais que o resto e torna-se a essência, a alma e o fundamento do conjunto representado.
Boris Pasternak
Etiquetas: pensar
<< Home