16/04/10

LER OS CLÁSSICOS - 125



ANJO

Alma humana, formada
de nenhüa cousa feita,
mui preciosa,
de corrupção separada,
e esmaltada
naquela frágoa perfeita,
gloriosa!
Planta neste vale posta
pera dar celestes flores
olorosas,
e pera serdes tresposta
em a alta costa,
onde se criam primores
mais que rosas!
Planta sois e caminheira,
que ainda que estais, vos is
donde viestes.
Vossa pátria verdadeira
é ser herdei da glória
que conseguis:
andai prestes.
Alma bem-aventurada,
dos anjos tanto querida,
não durmais!
Um ponto não esteis parada,
que a jornada
muito em breve é fenecida,
se atentais.


ALMA

Anjo que sois minha guarda,
olhai por minha fraqueza
terreal!
de toda a parte haja resguarda,
que não arda
a minha preciosa riqueza
principal.
Cercai-me sempre ò redor
porque vou mui temerosa
de contenda.
Ó precioso defensor meu favor!
Vossa espada lumiosa
Me defenda!
Tende sempre mão em mim,
porque hei medo de empeçar,
e de cair

- exc. do Auto da Alma, de Gil Vicente



[ agora em representação no espectáculo Miserere, (encenação de Luís Miguel Cintra), no Teatro Nacional D. Maria II. Pode ver também uma representação e o texto integral em
http://www.citi.pt/gilvicenteonline/html/auto/frameset_alma.html]

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