CAMONIANAS - 62
Quem ora soubesse
Onde o Amor nasce,
Que o semeasse!
De Amor e seus danos
Me fiz lavrador;
Semeava Amor
E colhia enganos;
Não vi, em meus anos,
Homem que apanhasse
O que semeasse.
Vi terra florida
De lindos abrolhos,
Lindos pera os olhos,
Duros pera a vida;
Mas a rês perdida
Que tal erva pace
Em forte hora nace.
Com tanto perdi,
Trabalhava em vão:
Se semeei grão,
Grande dor colhi.
Amor nunca vi
Que muito durasse,
Que não magoasse.
Luís de Camões, Rimas -1595 (1ªed.-póstuma)
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