03/03/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 4




Tormento do Ideal

Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre,

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombra, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o baptismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.



Antero de Quental - Sonetos

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons