LER OS CLÁSSICOS - 111
Belos olhos ferindo-me em tal guisa
que eles mesmos curar podem a chaga,
não em virtude de erva ou de arte maga,
ou pedra de além-mar que se utiliza,
fazem-me a vida de outro amor excisa,
que um só doce pensar a alma afaga;
e se a língua em desejo o segue e vaga,
não ela, mas a escolta e o escárnio visa.
São esses belos olhos que a empresa
de meu senhor vitoriosa fazem
que em toda a parte e no meu peito avance;
são esses belos olhos que me trazem
sempre no coração a chama acesa,
por que, deles falando, eu não me canse.
Francesco Petrarca (1304-1374), Rimas
trad. de Vasco Graça Moura, ed. Bertrand, 2003.
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