LEITURAS - 95
Um dia na vida de Ivan Denisovich
(Dois excertos – início e final)
«Como habitualmente, às 5 da manhã ouviu-se o toque de alvorada, dado pelos golpes de um martelo sobre um bocado de barra suspenso junto da barraca de comando. (...)
Já o ruído cessara, embora por todo o campo parecesse ainda estar-se a meio da noite, quando Ivan Denisovich Shukhov se ergueu para ir à latrina. Estava escuro como breu, vendo-se apenas a luz amarela lançada por três holofotes – dois no perímetro e um dentro do próprio campo. [...]
*
Shukhov adormeceu completamente satisfeito. Feliz. Fora bafejado pela sorte aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não tinham enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe de brigada fixara bem as rações; construíra uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e conseguira passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; comprara o tabaco. E não caíra doente.
Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz.
Contava já no seu activo três mil seiscentos e cinquenta e três dias como este. Desde o primeiro até ao último toque na barra de carril.
Os três dias suplementares pertenciam a anos bissextos.»
Trad de H. Silva Letra
Publicações Europa-América, Livros de Bolso nº 33, Lisboa, 1972 – reed. Em 2008
(Dois excertos – início e final)
«Como habitualmente, às 5 da manhã ouviu-se o toque de alvorada, dado pelos golpes de um martelo sobre um bocado de barra suspenso junto da barraca de comando. (...)
Já o ruído cessara, embora por todo o campo parecesse ainda estar-se a meio da noite, quando Ivan Denisovich Shukhov se ergueu para ir à latrina. Estava escuro como breu, vendo-se apenas a luz amarela lançada por três holofotes – dois no perímetro e um dentro do próprio campo. [...]
*
Shukhov adormeceu completamente satisfeito. Feliz. Fora bafejado pela sorte aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não tinham enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe de brigada fixara bem as rações; construíra uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e conseguira passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; comprara o tabaco. E não caíra doente.
Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz.
Contava já no seu activo três mil seiscentos e cinquenta e três dias como este. Desde o primeiro até ao último toque na barra de carril.
Os três dias suplementares pertenciam a anos bissextos.»
Alexander Soljenitsin
Trad de H. Silva Letra
Publicações Europa-América, Livros de Bolso nº 33, Lisboa, 1972 – reed. Em 2008
Etiquetas: leituras
<< Home