19/11/08

LEITURAS - 93




À noite, Marie veio buscar-me e perguntou se eu queria casar com ela. Disse que tanto fazia, mas que, se ela queria, poderíamos casar - nos. Quis, então, saber se eu a amava. Respondi, como aliás já respondera uma vez, que isso nada queria dizer, mas que não a amava.
— Nesse caso, por que casar-se comigo? — perguntou ela.
Expliquei que isso não tinha importância alguma e que, se ela o desejava, nos poderíamos casar. Era ela, aliás, quem o perguntava, e eu me contentava em dizer que sim. Observou, então, que o casamento era uma coisa séria.
— Não — respondi.
Ela calou - se durante alguns instantes, olhando-me em silêncio. Depois, falou. Queria simplesmente saber se, partindo de outra mulher, com a qual tivesse o mesmo relacionamento, eu teria aceitado a mesma proposta.
— Naturalmente — respondi.
Perguntou então a si própria se me amava, mas eu, eu nada podia saber sobre isso. Depois de outro instante de silêncio, murmurou que eu era uma pessoa estranha, que me amava certamente por isso mesmo, mas que talvez, um dia, pelos mesmos motivos eu a decepcionaria. Como ficasse calado, nada tendo a acrescentar, tomou-me do braço sorrindo, e declarou que queria casar comigo. Respondi que sim, desde que ela quisesse.

Albert Camus, O Estrangeiro

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