«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» -- 26
VÉNUS
II
Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina
– Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor-de-rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrui, compara.
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
– Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...
Camilo Pessanha, Clepsydra
Etiquetas: sentir veladamente
<< Home