LER OS CLÁSSICOS -75
Contra as fadigas do desejo
E quem me compusera do desejo,
Que grande bem, que grande paz me dera!
Ou, por força, com ele hoje fizera,
Que me não vira, em quanto assi me vejo!
O que eu reprovo; elege; e o que eu elejo,
Ele o reprova, como se tivera
Sortes a seu mandar, em que escolhera,
Contra as quais só por ele em vão pelejo.
Anda a voar do árduo ao impossível,
E para me perder de muitos modos,
Finge que a honra é certa no perigo.
Pois se nunca pretende o que é possível,
Como posso esperar ter paz com todos,
Quando não posso nem ter paz comigo?
D.Francisco Manuel de Melo - s.XVII
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