29/03/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 8



Paisagens de Inverno

(A Alberto Osório de Castro)

Ó meu coração, torna para trás.
Onde vais a correr desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou! Volvei, longas noites de paz.

Vergam da neve os olmos dos caminhos.
A cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites da serra, o casebre transido...
Cismai, meus olhos, como uns velhinhos.

Extintas primaveras, evocai-as.
– Já vai florir o pomar das macieiras.
Hemos de enfeitar os chapéus de maias. –

Sossegai, esfriai, olhos febris...
– E hemos de ir a cantar nas derradeiras
Ladainhas... Doces vozes senis...

Camilo Pessanha, Clepsydra

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