LEITURAS - 102
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijV_9dmndamso6omw1YMR5sFhD_p2RP9plh_quSYELx2GreCG8i23936sN1u9zuo3cSLrrhG-RLBE8HRMrs7o2qnjEI6Mg62oLXe7r4Pa0QPVrhNAff7zF36-7xu-dLI-8YwAA/s320/foto+de+Carla+Robalo+Martins..bmp)
o silêncio
[...] então o mar vinha vindo pelo crepúsculo adiante, até bater na orla do jardim, a espuma saltando até às janelas, disse, e ele riu, seguro de si, porque ela dizia sempre coisas impossíveis - mas havia uma distância enorme, desde logo em altura, entre a casa e a praia, afirmou, e ela corrigiu a falsidade, experimentou com outras palavras - então assim: havia uma enorme distância, desde logo em altura, entre a casa e a praia, mas ela imaginava que o mar vinha vindo pelo crepúsculo adiante e que a espuma batia nas janelas, sobre as quais tu corrias um cortinado verde-escuro, com anémonas brancas,mas não eram anémonas, eram flores não especificadas, e não eram brancas, mas rosa-pálido, e ela corrigiu, porque ele a obrigava: flores brancas, não especificadas, que aliás não eram brancas, mas rosa-pálido, e do jardim subia o cheiro da lúcia-lima,mas nunca houve lúcia-lima, disse ele, você é tão inexacta,o cheiro do rosmaninho, do tojo, do alecrim bravo,mas não havia rosmaninho, nem tojo, nem alecrim bravo, porque é que você refere sempre justamente o que lá não estava,então ela retirou o rosmaninho, o tojo, o alecrim bravo e a lúcia-lima, retirou o jardim, a casa, o mar e a praia, e reconheceu que eles eram um homem e uma mulher que não se amavam, porque não conseguiriam falar nunca.[...]
Teolinda Gersão - O silêncio
foto de Carla Robalo Martins
Etiquetas: leituras
<< Home