O pior dos medos não é aquele que sabemos localizar, que sentimos em relação a uma dada situação, a um objeto ou ser que podemos identificar. Nem é sequer aquele que, após um instante de recusa, nos impele a enfrentar o que nos ameaça. É antes esse sentimento difuso, pouco claro, ambíguo, inteiramente desarmante, que experimentamos quando somos afetados por algo que não sabemos identificar, nem ver, nem prever, reduzindo a nossa margem de escape diante do perigo que pressentimos. É esta espécie de medo que nos acompanha por estes dias, quando somos confrontados com uma imprevisibilidade que começa nas palavras e nos atos daqueles que nos governam e ousam falar em nosso nome. Como poderemos dormir descansados quando os primeiros a ameaçar-nos, a escalar-nos as paredes e a entrarem sem avisar pelos nossos lares adentro, são justamente aqueles que foram democraticamente escolhidos para cuidarem do nosso futuro e gerirem, sob a bandeira que nos reúne, a antiga paz das nossas noites? Algo está muito mal e a precisar muito rapidamente de ação neste mundo às avessas que nem parece o nosso. Que não pode ser o nosso.
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