13/06/07

PARA FERNANDO PESSOA, NO DIA DO SEUS ANOS




Terzas para Fernando Pessoa




Ó multifacetária face de ti mesmo
reverso de teus versos mais insuladores
onde revelas pênsil a palavra a esmo

E o eco do teu eco a eclodir nos tambores
faz-se volátil ressoar do teu retrato
nas elegias em que cantas desamores

Pois bem no fundo do teu mais íntimo trato
lá no recôndito de tua geografia
é que o vero signo reveste-se abstrato

Tu e os teus outros, e o teu Outro desafia
o gesto indecifrável do teu canto oblíquo
que logo reverdece em tua engenharia

Ó pêndulo que pende mais ao lado iníquo
a desvelar ocultas idiossincrasias
no labirinto azul do teu ser tão melífluo

que ao mesmo tempo traz amargas fantasias
adredemente enviesadas na vontade
ao avesso polissêmico das travessias

por quem a solidão quedou-se-te nos becos
na mais estranha fala perto da saudade

Ó Lisboa de outrora, de hoje, os teus degredos
de tão particulares e silenciosos
passaram como passos teus breves segredos

E voltas a escandir clarões licenciosos
no sol dessa saliva rubra como um halo
tecido em linha reta aos sons maliciosos

que seguem direções nas patas de um cavalo
e se vão semeando em brilho opalescente
até as pradarias por onde me resvalo

O que fica de ti é esse ir morrendo
como a lua de Durban alhures perdida
como as cartas de Ophélia ainda recendendo

o palor dessa paixão de contorno fendida.
Em sete vezes sete exauriste no aval
de Álvaro de Caeiro de Reis na medida

milenar e obscura da cruz do Santo Graal
que te fez cavaleiro da terra querida
para melhor cantar o teu chão Portugal.

Aníbal Beça

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